Nota Biográfica: Leonardo de Nossa Senhora das Dores Castello-Branco (1788-1873)
Leonardo de N. Sr.ª das Dores Castello-Branco nasceu em 1788 no sítio Taboca, depois fazenda. Fez os estudos primários na casa paterna, como era hábito naqueles tempos no Piauí. Desde bem jovem apreciava muito a leitura e mostrava dotes para a poesia, mas foi na agricultura que começou a vida. Com o tempo, foi se envolvendo na política e se tornou revolucionário. Foi escritor, poeta, filósofo e inventor. Por volta de 1807 fundou a fazenda Caiçara, na Lagoa Grande, e mais tarde, por volta de 1817, fundou a fazenda da Limpeza, a primeira na data e sesmaria da Tranqueira e a segunda na data e sesmaria da Boa Esperança. A fazenda da Limpeza, com sua casa-grande, distava cerca de 10 quilômetros da atual cidade de Esperantina. Leonardo de Carvalho Castello Branco teve uma intensa vida política.
Em 1821 tomou parte em Oeiras, como eleitor de paróquia, na votação que elegeu seu parente Miguel de Souza Borges Leal Castello Branco [primeiro do nome] deputado pela província do Piauí, junto às Cortes Constituintes de Lisboa. Em 1822, ano da independência do Brasil, era alferes secretário da Divisão Auxiliar do Piauí. Atuou ativamente, desde os primeiros movimentos, em prol da independência. Em 22-01-1823 aprisionou o destacamento que o major português João José da Cunha Fidié deixara em Piracuruca. Em 05-02-1823 apoderou-se da vila de Campo Maior. Em 01-03-1823, ao se dirigir para Brejo dos Anapurus, no Maranhão, foi preso ao tentar sublevar a região, depois de passar pelo porto das Melancias, ao atravessar o rio Parnaíba. Recolhido à cadeia pública, foi imediatamente remetido para São Luís e encarcerado na fortaleza de Santo Antônio da Barra, na Ponta da Areia. De São Luís foi transportado no brigue Sociedade Feliz para Lisboa, onde foi recolhido à cadeia do Limoeiro.
Nos cárceres de Lisboa foi confortado por seu parente Miguel de Souza Borges Leal Castello Branco, o ilustre deputado piauiense. Em 06-06-1823 foi indultado com todos os outros presos políticos, graças ao ato de anistia promulgado pelo governo português. Ao sair da prisão, em pagamento de uma promessa feita à sua padroeira, Leonardo de Carvalho mudou seu nome para Leonardo da Senhora das Dores Castello Branco. Imediatamente retornou ao Brasil, via Recife, e do Recife passou a Salvador, na Bahia, em agosto de 1823, ocasião em que ficou sabendo da rendição do major Fidié em Caxias, no Maranhão.
O governo do Piauí mantinha-se fiel a Portugal. A chamada “guerra de Fidié” foi o maior conflito armado da história do Piauí, tendo sido motivado pela adesão da província à independência do Brasil, em 19 de outubro de 1822, na vila de Parnaíba. Os portugueses ali residentes ofereceram forte resistência à subordinação ao novo império, sob o comando do major Fidié. Em março de 1823, em Campo Maior, houve violenta batalha nos campos de Jenipapo, com o envolvimento de cerca de 4 mil homens, terminando com a vitória dos portugueses. Apesar disso, as forças dos independentes do Piauí, do Ceará e do Maranhão cercaram Caxias e impuseram a capitulação do major Fidié em 30-07-1823. Entre as figuras que lutaram pela independência do Brasil naquela região, encontravam-se o coronel Antônio Lopes Castello Branco e Silva, pai de Lívio Lopes Castello Branco e Silva. Em 1824, já no Piauí e pouco tempo depois de retornar à sua província, Leonardo de Carvalho Castello Branco foi preso ao se envolver no movimento libertador pernambucano conhecido como Confederação do Equador, liderado por Frei Caneca.
Depois de um ano preso em Oeiras, foi remetido em 1825 para São Luís, onde recobrou a liberdade. Foi certamente um dos vultos mais grandiosos da luta pela independência do Brasil no Piauí, embora até hoje não tenha recebido nenhum reconhecimento das autoridades federais. Em 1838, é certo que não se envolveu no movimento conhecido como Revolução dos Balaios ou Balaiada, à diferença de seu parente Lívio Lopes Castello Branco e Silva, por não se encontrar no Piauí.
Desde muito cedo mostrou grande interesse pela mecânica, que mais tarde se tornaria uma ideia fixa para ele, um tormento em sua vida, a preocupação dominante de sua longa existência. Em 1833, partiu do Piauí para Lisboa com o intuito de retomar o projeto de criação de um moto-contínuo, para o qual julgava ter encontrado a solução definitiva. Dominado por essa obsessão, deixou a família no Piauí, partindo para concretizar seu grande sonho.
Permaneceu em Portugal até 1850, ocasião em que retornou ao Brasil, indo para São Luís. Passou pela fazenda Chapada da Limpeza em visita à família e foi para Salvador, na Bahia, onde se estabeleceu por dois anos, sempre trabalhando na realização de sua grande obra, o moto-contínuo. Desiludido, partiu de Salvador para o Rio de Janeiro. Ali, apesar do auxílio do conselheiro José Antônio Saraiva, não conseguiu o apoio do imperador D. Pedro II para o projeto. Em 1860, já no Piauí, e até sua morte, Leonardo de Carvalho dedicaria o resto de suas forças à construção de uma enorme máquina de madeira que ele dizia ser o moto-contínuo. Também construiu uma máquina para descaroçar algodão. Sacramento Blake, no seu Dicionário Bibliográfico Brasileiro, enumera trabalhos publicados por Leonardo, escapando-lhe, porém, os que ficaram inéditos. No Brasil, segundo alguns autores, foi o primeiro a tentar a “poesia científica”.
Entre outros trabalhos, deixou: O ímpio confundido: em três cantos, apologia cristã e refutação ao ateísmo de 1837; O santíssimo milagre: Poema sobre o milagre eucarístico de Santarém, de 1839; Memória que contém a sexta parte da obra intitulada Tesouro descoberto no Rio Máximo Amazonas, de autoria do jesuíta João Daniel [manuscrito inédito datado de 15-05-1841]; Memória acerca das abelhas da província do Piauí no Império do Brasil datado de 1842; Astronomia e Mecânica Leonardina, publicado em Lisboa em 1843, publicação em tomos fragmentados; Juízo ou parecer dado em Lisboa em 1845; A criação universal: Poema de apologética cristã, de 1856.
Leonardo faleceu em 12-06-1873 no sítio Barro Vermelho (próximo à fazenda da Limpeza), no atual município de Esperantina, Piauí, sepultado provavelmente no cemitério da Limpeza.
Referência:
Ferreira, Edgardo Pires. A mística do parentesco: uma genealogia inacabada: Os Castello Branco. – 1. ed. – Garulhos-SP : abc Editorial, 2011.