Nota Biográfica: Monsenhor Joaquim de Oliveira Lopes (1870-1925).

Criador da Diocese do Piauhy e líder clerical da resistência católica contra a perseguição maçônica piauiense de 1908 a 1913.

 
MONSENHOR JOAQUIM DE OLIVEIRA LOPES (1)

 
Quem rememorar os fatos que ensejaram a criação do Bispado do Piauí não pode olvidar o nome do monsenhor Joaquim de Oliveira Lopes, principal baluarte dessa trincheira de luta. Foi “figura exponencial do clero piauiense”, na expressão de monsenhor Joaquim Chaves.

Estudando o ensino rudimentar na vila de Picos foi, mais tarde, enviado para São Luís do Maranhão, a fim de continuar os estudos e ingressar na vida eclesiástica, na qualidade de aluno interno do Seminário de Santo Antônio.

Em 29 de junho de 1893, na igreja do Recolhimento, recebeu a ordem do diaconato. Finalmente, concluindo os estudos eclesiásticos ordena-se sacerdote em 19 de maio de 1894, cuja cerimônia acontece na igreja de Santo Antônio.

De retorno ao Piauí, trouxe a nomeação para vigário da freguesia de Itamaraty, hoje cidade de Pedro II, onde demorou-se por três anos. Entre março de 1897 a 1898, lecionou no seminário, em São Luiz, nesse último ano sendo nomeado vigário da freguesia de Nossa Senhora do Amparo, em Teresina. Desde então assumiu de corpo e alma a campanha pela criação do Bispado do Piauí, arrostando dificuldades e enfrentando injúrias e difamações. Nesse aspecto, reencetava denodadamente uma luta que principiara no primeiro quartel daquele século com o padre Marcos de Araújo Costa, mas esmaecera completamente nos últimos decênios do Império. Então, fez-se arauto da cristandade piauiense. 

Pregou na capital e percorreu as freguesias do sertão, incitando o povo que aderiu em massa. Recebeu donativos e preparou a documentação necessária, que foi repassada ao Bispo D. Antônio Xisto Albano, para informar à Nunciatura. Porque esse chefe religioso arquivou a papelada, alegando que a manutenção do Piauí era imprescindível para o sustento do bispado maranhense, o padre Lopes foi a Salvador e conseguiu a adesão do Arcebispo da Bahia, que intercedeu em seu favor.

Desde 11 de junho de 1901, o padre Lopes fora nomeado cônego, por reunião do Cabido. Recebeu o título de monsenhor antístite urbano, por Breves da Santa Sé, de 23 de setembro e 8 de outubro de 1909.

Consolidada a sua luta pela criação do bispado piauiense, continuou seu trabalho apostolar na freguesia do Amparo. Melhor seria se o reconhecimento tivesse vindo com a nomeação para primeiro bispo da nova diocese, o que não ocorreu. Porém, esse fato não o impediu de consolidar uma liderança incontestável no clero piauiense, percorrendo as freguesias interioranas em trabalho missionário, pregando, confessando, construindo ou remodelando igrejas e capelas. Contribuiu na restauração das matrizes de Pedro II, Valença, Picos e Parnaíba e das capelas de Canto Alegre e Altos; no embelezamento das matrizes de Oeiras e São Benedito, esta última em Teresina; na edificação das capelas de Inhuma, Forte e Ipiranga; e na reconstrução das capelas de Simplício Mendes, Alagoinha e Fradinho.

Em sua faina religiosa fundou em todas as paróquias piauienses, o Apostolado da Oração. Também, trouxe para Teresina a Sociedade São Vicente de Paulo.

Com o prestígio alcançado não pôde fugir ao debate de ideias, nem ao enredo da política. Defendendo ideias conservadoras, a filosofia escolástica esposada no Concílio Vaticano I, combateu o que considerava ser paganismo, anarquismo e erros do racionalismo, numa luta feroz contra a loja maçônica do Piauí. Seus opositores eram jovens bacharéis piauienses egressos da Escola do Recife, defendendo ideias positivistas, racionalistas e evolucionistas.  Foi uma luta titânica. Foi causa de acirramento uma pastoral em que o Bispo D. Joaquim de Almeida, apresentou ao clero e aos fiéis a encíclica Pascendi Dominici Gregis, publicada em 8 de setembro de 1907, pelo Papa Pio X, inculcando-lhes a doutrina da Igreja sobre a maçonaria. 
 
Monsenhor Lopes, como ficou conhecido, fez-se líder do partido católico denominado “União Popular”, participando ativamente de diversas campanhas eleitorais. Em 1910, apoiou a candidatura presidencial de Rui Barbosa, ao lado de Elias Martins, cônego Raimundo Gil, farmacêutico Collect Fonseca, coronel José Portellada, bacharel Augusto Ewerton e Silva, cônego Fernando Lopes e Silva e padre Amâncio Ramalho, entre outros. Em 1914, engajou-se na campanha parlamentar de Elias Martins e Joaquim Pires.

Faleceu o inolvidável monsenhor Joaquim de Oliveira Lopes, em 24 de setembro de 1925, vítima de colapso cardíaco, no povoado Inhuma, então termo do Município de Valença, com pouco mais de 55 anos de idade. Para os redatores do jornal A União, do Rio, Mons. Lopes era um: “Caráter integérrimo, intrépido lutador pelo catolicismo e pelo Brasil, bateu-se como um leão contra os poderosos chefes políticos maçons do Piauhy, que foram obrigados a respeitá-lo, fazendo justiça à sinceridade e aos altos intuitos desse sacerdote de rara inteligência, de costumes impolutos e de piedade exemplar”. Segundo a notícia fúnebre veiculada no jornal A Imprensa, era um: “Sacerdote dos mais cultos, virtuosos e distintos do Piauhy. O desaparecimento de Mons. Lopes abre no seio do clero e da sociedade piauiense um claro difícil de ser preenchido. De trinta anos para cá não há nenhuma empresa de caráter religioso, em o nosso Estado, pela qual se não tivesse batido ardorosamente o ilustre extinto", acrescentou aquele órgão da imprensa. Perdeu o Piauí, àquela época, seu principal líder católico e grande benfeitor.

 
  
*NOTA BIOGRÁFICA (2)

Monsenhor Joaquim de Oliveira Lopes, a pedra mais sólida no alicerce tão profundo dos 80 anos de luta na construção da Diocese do Piauí. Lutador compulsivo, destemido e inquebrantável na sua teimosia sacerdotal de ver um Bispo de anel e mitra na futura Cátedra Episcopal do Piauí. Piauiense de Picos (24/02/1870). Filósofo, teólogo e sacerdote em São Luis - MA (19/05/1894), vigário exemplar de Pedro II - Prelado da Matriz do Amparo, Primaz de Teresina. O maior construtor e restaurador do nosso patrimônio eclesiástico. Nesse corpo pequeno, habitavam vontades férreas. Nessa aparência frágil escondia-se substanciosa alma sacerdotal. Político sacerdotalizado? Sacerdote politizado? Cuidadoso. Inteligente. Irônico. Ansioso. Defensor dos pobres. Fazia tremer poderosos: Políticos ilustres da maçonaria e ateus. Medo de nada. Não fragilizou-se com sua ameaça de morte. Não teve medo dos inimigos da Igreja. Não foi à posse de Dom Octaviano, por ser paraninfado pelo Governador - perseguidor maior do clero. Não entendeu a inaugural "Formosura da Paz" do seu novo Bispo. Não se sabe de nada da sua apresentação ao palácio, no dia seguinte. Mágoas e perdões mútuos. Obediência sacerdotal nesta santa diplomacia de Deus. Desde 24 de setembro de 1925, 4ª feira, aos 55 anos, dorme no silêncio sepulcral de sua capelinha familiar de Santa Cruz do Forte, cercada de seculares buritis, próxima à doce e bucólica cidade do Ipiranga-Pl.

 
Referências: 
 
(1) MIRANDA, Reginaldo. Mons. Joaquim de Oliveira Lopes (Piauienses Notáveis). Fonte: https://www.portalentretextos.com.br/post/monsenhor-joaquim-de-oliveira-lopes-e-a-criacao-do-bispado-do-piaui#_ftnref27
 
(2) SANTOS NETO, Antônio Fonseca; LIBÓRIO, Paulo de Tarso Batista. OCTAVIANO. Teresina: Nova Fronteira. 2018. (Sucessores dos Apóstolos em Teresina). Vol. 2.

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