IN ILLO TEMPORE: Os Festejos de Santo Antônio de Campo Maior no ano de mil oitocentos e oitenta e oito (relato de 1888)
❝Como em todos os anos foi festejado o milagroso padroeiro da freguesia de Campo Maior. As novenas estiveram sempre bastante frequentadas por quase toda a população o respeitável sacerdote Padre Manoel Félix Cavalcante de Barros foi incansável em trabalhar para o brilhantismo da festa.
A Igreja estava sempre muito bem decorada graças à perícia bom gosto dos dois grandes curiosos pintores Francisco Figueiredo e João Cândido [de Deus e Silva].
Na Via Sacra do dia da festa começou afluir à vila enorme quantidade de povo do interior e o movimento era indescritível. As ruas ofereciam agradáveis palestras pelos sucessivos grupos que se encontravam aqui e ali.
Terminando o ofício religioso da última novena, uma bem organizada passeata de distintos moços, tendo à frente uma bem regida Orquestra percorrem diversas casas de famílias, oferecendo esplendida distração. Foram recitadas belíssimas poesias quase todas de poetas brasileiros dos mais admitidos com aplausos do povo em crescido número reunido e em verdadeiro jubilo.
No dia 13 foi celebrada a missa solene com assistência de todos os habitantes da vila e pessoas que haviam chegado do interior para esse fim. A tarde percorreu os lugares de costume, com grande concurso do povo, o padroeiro do município. As senhoras capricharam em suas toilles e conduziram os andores ricamente ornados. Seguindo a Irmandade respectiva, iam a frente duas lindas e interessantes crianças elegantemente vestidas de anjos.
Ao recolher-se a procissão foi entoada a ladainha de graças e terminada a festa religiosa no meio das mais vivas saudades.
A proporção que do templo saíam os fiéis, aglomeravam-se no patamar para apreciarem os fogos de efeito admirável que se sucediam. Era imponente o quadro que se oferecia. Os balões, os fogos cambiantes, seguidos dos harmoniosos sons da banda de música, foram o sublime complemento da entusiástica festa.
Durante o dia para mais de 20 dúzias de magníficos foguetes federam os ares, afora algumas dúzias de foguetes de gosto moderno e grande porção de girândolas.
Concluída a agradabilíssima distração da festa exterior do templo, seguiram as famílias para a casa do simpático e amável Sr. Capitão Francisco Bastos, que, cedendo grandiosamente os seus magníficos salões devidamente preparados para uma esplêndida foirée a todos recebia sua distinta e virtuosa esposa, Sra. Olímpia de Figueiredo Bastos, com aquela amabilidade que todos lhe conhecem.
Às 8 horas pouco mais ou menos começou a dança em verdadeiro entusiasmo graças as moças que com seus toittelles de gosto admirável apresentaram-se em sua quase totalidade revestidas de uma santa alegria.
Destacarei os toittelles mais chics e que atraíam as vistas de um observador atento como autor destas linhas: os das Sr.tas Theodora Bona, Maria Silva, Hermínia Dias, Ana Bona e Carmina Silva, que mostraram apurado gosto em trajaram-se.
Uma vez que distingui os toittelles das moças é justo que aqui trate dos simpáticos divertidos jovens que tanto trabalharam para que mais esplêndida e deslumbrante se tomasse a Soirée refiro-me aos ilustres Sr.s Dr. José Vicente, Ernesto Figueiredo, [Antônio Maria] Eulálio Filho, Fábio [Maria] Eulálio, Artur do Rego, Antônio Rodrigues [de Miranda], Honório Bona, F. de Rego, João Padre, [Antônio da] Costa Araújo Filho e Amaro Bona, moços atenciosos e delicados e que realçam por sua esmerada educação.
A dança correu animadíssima e terminou a 1 hora da madrugada no meio das gratas recordações de todos, que saudosos lamentaram o seu término.
O serviço do chá foi satisfatoriamente dirigido pelo ilustre Sr. Capitão F. Bastos e a Sra. Olímpia de Bastos, que como sempre exibiram a mais aperfeiçoada e distinta gentileza de convivência social, pelo que tem direito a essa consideração e estima do hospitaleiro povo campo-maiorense.
Fazendo minhas saudações nos habitantes de Campo Maior pelo brilhantismo com que fora este ano festejado o seu milagroso padroeiro, peço desculpa da minha incompleta e mal alinhavada descrição.❞
Teresina, 18 de junho de 1888. J.C.
Fonte: A Reforma, Teresina. 19 de Junho de 1888, nº 57, ano II, p. 01-02.