Nota Biográfica: Dom Joaquim Antônio de Almeida, 1º Bispo do Piauhy (1868-1947).
Dom Joaquim Antônio de Almeida, nasceu em 17 de agosto de 1868, no município de Goianinha, Rio Grande do Norte. Recebeu suas primeiras instruções do Padre Idalino de Sousa, vigário da cidade.
Em 1885, Joaquim ingressa no Colégio Diocesano de Olinda-PE. Entra no Seminário Pernambucano de Olinda, mas depois segue para o Ceará, onde ingressa no Seminário de Fortaleza (1889), lá recebe a formação de filosofia e teologia, e pelas mãos de Dom Luiz Antônio Vieira, recebe as ordens: a tonsura em 1891, as Ordens menores e Subdiaconato em 1892.
No dia 2 de dezembro de 1894 recebia o Presbiterato.
Durante seu ministério sacerdotal ao final do século XIX, teve influências do alto clero brasileiro, nas figuras memoráveis de: Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques e Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, futuro Cardeal Arcoverde.
Em 20 de agosto de 1896, foi titulado cônego da Catedral da Paraíba (Nossa Senhora das Neves). Já em 1898 é feito reitor do Seminário da Paraíba, a convite de Dom Adauto, onde recebe vários elogios e panegíricos por seu zelo e dedicação. Por tais serviços, se torna Vigário Geral da Diocese Paraibana, dos anos de 1904 a 1905, quando realiza suas primeiras visitas pastorais da Paraíba ao Rio Grande do Norte.
Em outubro de 1905, recebe o título de Monsenhor, "Camareiro Secreto do SS. Pio X". Nesta fase, Mons. Joaquim tinha fama e prestígio, o que levou a sua indicação para o Episcopado, por seu superior e amigo Dom Adauto Henriques.
Em dezembro de 1905 recebe a designação para ser Bispo do Piauí, recém-criada Diocese, através da Bula Supremum Catholicam Ecclesiam do Papa Leão XIII, dada em 20 de fevereiro de 1901.
Mons. Joaquim d`Almeida relutante pede 15 dias para a aceitação, não podendo mais hesitar, aceita o encargo e missão. Em 4 fevereiro de 1906, é sagrado sob presidência do Núncio Apostólico, Dom Júlio Tonti, na Catedral da Paraíba, assistido por: Dom Adauto, Dom Luiz Raimundo da Silva Brito (Olinda) e Dom Antônio Manuel de Castilho Brandão (Maceió). Empossado em Teresina-PI no dia 12 de março de 1906.
A chegada de Dom Joaquim no Piauí foi de uma grande recepção, digna a um príncipe da Igreja; vindo pelo Maranhão, passa de São Luís a Caxias, seguindo até Teresina, atravessa o Rio Parnaíba pelo vapor "Teresinense". Ao subir a rampa do cais do porto, às cinco horas da tarde do dia 11 de março de 1906, a capital católica do Piauí já o esperava. Eram milhares de pessoas à beira do rio Parnaíba, para acolher calorosamente seu primeiro bispo.
O ato de posse ocorreu no dia 12 de março de 1906, na Catedral de Nossa Senhora das Dores, com a presença de todo clero diocesano, representantes de grupos e apostolados leigos, e das autoridades políticas de então, a exemplo do vice-governador do Estado em exercício, Areolino de Abreu.
Do breve Bispado de Dom Joaquim, destacam-se três aspectos de sua administração, dos quais mais se caracterizou seu Episcopado, a saber; primeiro quanto a Educação Católica no Piauí: criação dos colégios Sagrado Coração de Jesus (feminino) e São Francisco de Sales (masculino), na capital Teresina; e os colégios Nossa Senhora das Graças (feminino) e colégio Dom Joaquim (masculino), na cidade de Parnaíba.
Ainda, além da edificante obra no florescimento da educação católica piauiense, Dom Joaquim fez germinar novas vocações sacerdotais, com a criação do Seminário Diocesano, aliado ao Colégio Diocesano Salesiano. Chegou ao número total de 321 matrículas de 1906 a 1910. Os padres que Dom Joaquim ordenou no Piauí foram: Aristeu do Rêgo Barros, Felipe de Oliveira Lopes, Lindolfo Uchôa, João Hipólito, Marcos Carvalho, Cícero Portella, Amâncio Ramalho, Manoel Barreto, Afonso Lopes, Jéferson Urbano, Elesbão Gurgel, Manoel Otaviano, Olegário Memória, Henrique Somboek, Zeferino Ataíde, Benedito Castro, Gastão Pereira, Francisco Sales, João Clementino de Melo Lula, Miguel Reis e Antônio Meneses.
A segunda linha de frente de seu episcopado foi a Imprensa Católica Piauiense, com a criação do Jornal "O Apóstolo", em 1907; que passou pelas fases de: “Órgão Oficial da Diocese”, até 1909; “Órgão Popular Católico”; e, em 1910, passa a servir a causa política do partido católico “União Popular”, tendo por redator-chefe Dr. Elias Martins e diversos colaboradores entre clérigos e leigos. Fora nas páginas deste jornal católico que ficaram registrados os principais conflitos da época, e o motivo de tamanhas querelas pessoas alimentadas até após a saída de Dom Joaquim.
E a sua terceira grande contribuição, fora através de suas Visitas Pastorais (1906,1907,1908) até os sertões do Piauí (a primeira missão de desobrigas de um Bispo Piauiense); viajando ao longo de milhas, a cavalo por terra ou de barco pelos rios, foi de Campo Maior e União a Amarração e Parnaíba (norte) até Picos, Floriano, São Raimundo Nonato e as extremidades do sul do Estado, naquela que seria mais tarde a Prelazia do Bom Jesus do Gurguéia. Fez dezenas de batismos, crismas e casamentos de casais em estado de união ilícita. Em uma fazenda, onde foi muito bem tratado, disse, no auge do cansaço pelo calor extremo do sertão piauiense: "recebei, meu Deus, para salvação desse povo qualquer sacrifício que eu faça".
No entanto, apesar das glórias e sucessos de nosso primeiro Bispo, Dom Joaquim teve de sofrer pesados flagelos e espinhos da parte dos inimigos da Igreja; no que ficou conhecida a polêmica da: "Questão Religiosa no Piauí" (nomeação do maçom Eurípides Dourado Filho) temos o ponto mais dramático do episcopado e da vida do próprio Dom Joaquim, no que decorreu no cenário político-religioso pelo combate aberto à Maçonaria Teresinense e sua influência nos governos do Estado, sobretudo contra as “intenções veladas” da loja Caridade II, que tinha por insignes: Dr. Antonino Freire, Dr. Miguel de Paiva Rosa e Dr. Abdias Neves, todos veneráveis maçons; sendo que os dois primeiros foram, respectivamente, governadores do Estado, e os mesmos foram protagonistas na “Questão Religiosa do Piauí”.
Tal página negra da História Eclesiástica do Piauí, foi marcada por episódios de polêmicas de desacatos públicos em igrejas; querelas pessoais entre Pe. Joaquim Lopes e Dr. Miguel Rosa, com suspeitas de tentativas de assassinato ao padre na igreja São Benedito (1912); o Cerco armado ao paço episcopal em 2 de dezembro de 1909, onde houve ameaça de morte ao bispo; a crise episcopal com a saída de D. Joaquim do Bispado em 1910, no fervor do conflito; e, em 1912, no auge final do conflito, ocorre o trágico assassinato do major Gérson Edison de Figueiredo, o que levou uma onda de incriminação dos jornais contra a Diocese, ocasionando a prisão do Padre Joaquim Lopes; e finalmente, ao final de 1912, sob o mandato do governador Miguel Rosa, foram destruídas as oficinas das tipografias de "O Apóstolo" e da "Cidade de Teresina", órgãos de imprensa de oposição e militância da ação católica piauiense.
As razões desse conflito e perseguição a Dom Joaquim se devem, dentre outros fatos, especialmente a declaração anti-maçônica do Bispo quando da publicação da polêmica Carta Encíclica: Pascendi Dominici Gregis (1907) de S. S. Papa Pio X: "Contra os Erros do Modernismo"; ainda, sobre a condenação a Maçonaria, D. Joaquim na ocasião das disputas eleitorais de 1910, apontando o voto católico direcionado a chapa presidencial: RUY-LINS, declara: "O clero e os católicos devem negar o voto a quem quer que seja candidato da maçonaria. Aquele que aspirar o apoio dos católicos tem que protestar expressamente contra toda acusação que lhe atribua ligações com a seita maçônica" (20 de fevereiro de 1910).
Outro ponto de ignição fora a série polêmica de calúnias e difamações perpetradas entre o Padre Joaquim Lopes e o Dr. Miguel Rosa, nos jornais, tribunas e do alto dos púlpitos das igrejas; e ainda, também se alega, a causa da educação católica, um tônica defendida por Dom Joaquim, e onde se propagava uma espécie de contra-campanha maçônica, de promoção das "Escolas Normais Livres", de caráter laicista e anticlerical, o que despertou mais embates.
Um último fator contrário ao bispo que se deve destacar, fora o caso das fazendas do Patrimônio de Nossa Senhora do Carmo de Piracuruca, de propriedade da Diocese do Piauhy, mas que passou por complicações jurídicas e administrativas nos anos de 1908 a 1910, por parte de um grupo pára-maçom usurpador intitulado: "Fraternidade Piracuruquense".
O dilema patrimonial chegou até o Supremo Tribunal da República, a ponto do Senador Ruy Barbosa intervir na questão a favor da causa eclesiástica. Ao final, Dom Joaquim vende as propriedades, para suprir os altos custos diocesanos, causando enorme alvoroço por parte do Partido "União Popular", que entenderam aquilo como uma espécie de derrota.
Dom Joaquim esgotado por tamanha perseguição e temendo maiores ataques, renuncia e é transferido para Natal, assumindo ali a nova Diocese do Rio Grande do Norte, em 1911. Toma posse como primeiro Bispo de Natal no dia 15 de junho de 1911, na antiga Catedral de Nossa Senhora da Apresentação. Novamente faz ligeiro Episcopado, durando apenas 4 anos; em 1915, durante a Grande Seca, sofreu complicações de saúde, e sofrendo uma grave "congestão cerebral" renuncia no dia 15 de junho de 1915 a Cátedra Natalense.
Em 1915 segue para o Rio de Janeiro para tratamento médico, e retorna para a Paraíba, onde inicia sua longa vida de reclusão sob a proteção de seu amigo Dom Adauto A. Miranda Henriques, então Arcebispo, servindo-lhe de Bispo auxiliar, recebendo o título de Bispo titular do Lari (Ásia menor); em 1918 passa a residir no palácio episcopal da Paraíba.
Em 1926, um episódio dos mais marcantes de sua vida, segue em Romaria com clérigos e religiosos para Canindé-CE, para as comemorações dos 700 anos da morte de São Francisco de Assis; lá, como um testemunho de fé, se converte em um franciscano completo, se tornando o "Bispo das longas barbas" (a moda capuchinha) de sandálias e vestimentas mais simples.
Em 1935, a convite do Bispo Dom Manoel Antônio de Paiva, segue para Garanhuns-PE, onde servirá até 1944, como Bispo auxiliar na Diocese, em casa de congregação religiosa de reclusão, junto ao Colégio Orfanológico de Bom Conselho.
No ano de 1944, Dom Joaquim segue para Goianinha-RN, sua terra natal, para celebrar seu cinquentenário de sacerdócio e recordar suas raízes. No mesmo ano é chamado por Dom Marcolino Esmeraldo de Souza Dantas (4° Bispo do Rio Grande do Norte) para servir em Macaíba, onde ficará até sua morte.
Em 30 de março de 1947, faleceu Dom Joaquim Antônio de Almeida, em sua residência às vésperas da Procissão do Bom Jesus dos Passos; não conseguiu realizar o sermão do qual havia sido convidado pelo vigário de Macaíba. Sepultado em mausoléu no cemitério municipal de Macaíba, e posteriormente transferido para uma capela da cidade.
Por fim, em 5 de março de 1951 seus restos mortais foram transladados para a antiga Catedral de Nossa Senhora da Apresentação; No local de sua sepultura, lê-se a seguinte inscrição latina: Hujus vitae, testis virtutis/ Fuit custas; / Utque justus, Regis magnalia, que significa: “Foi desta vida o guardião e testemunha da virtude para cantar no céu, as grandezas de Deus”.
Referências:
SANTOS NETO, Antônio Fonseca dos; LIBÓRIO, Paulo de Tarso Batista. JOAQUIM. Teresina: Editora Nova Aliança, 2016. (Sucessores dos apóstolos em Teresina, v. 1).
FAGUNDES, Antônio. Vida e Apostolado de Dom Joaquim Antônio de Almeida. Natal: Sebo Vermelho Edições, 2011.
FARIAS, Dário Leno de Souza. Contra o Poder das Trevas: Elias Martins e a militância católica leiga ultramontana no Piauí de 1910 a 1913. Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Piauí - UFPI, 2022.