A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Amparo e o nascimento da capital Teresina (1850-1852)
Teresina nasceu nos braços da Igreja Católica, isto é, na celebração de uma missa, na hora em que se lançava a pedra fundamental de sua matriz, a Igreja de Nossa Senhora do Amparo.
O presidente José Antônio Saraiva veio à Vila do Poti em 1850 e aconselhou os potienses a construírem uma povoação na Chapada do Corisco, começando pela igreja. Animados com a promessa de que a nova povoação seria em breve a capital da Província, os potienses meteram mãos à obra com ardor desusado. Aos 25 de dezembro daquele ano, com grandes solenidades, lançaram a pedra fundamental da igrejinha no local escolhido pelo presidente. Construída por subscrição popular, a igreja foi inaugurada na missa de Natal de 1852. Até o Imperador D. Pedro II concorreu para a sua construção enviando do Rio, de seu próprio bolso, a importância de um conto de réis para aquele fim.
Ao redor das paredes da Igreja de Nossa Senhora do Amparo foram construídas as primeiras casas da cidade. Aos 25 de março de 1865 foi lançada a pedra fundamental da Igreja de Nossa Senhora das Dores, no Largo do Saraiva. Inaugurada a 16 de fevereiro de 1867, esta igreja foi construída pelo governo da Província.
Aos 13 de junho de 1874, Frei Serafim de Catânia lançou a pedra fundamental da igreja de S. Benedito, no "Alto da Jurubeba". Para a construção desta igreja o benemérito frade valeu-se exclusivamente do apoio e do concurso do povo. Foi ela sagrada por S. Excia. Revma. o Sr. D. Antônio Cândido de Alvarenga aos 3 de julho de 1886.
Praça da Constituição. No entorno da grande praça, os primeiros edificios da cidade. Na seqüência, da esquerda para a direita: o mercado; casas comerciais; um sobrado residencial cedido para o Palácio do Governo (atual Museu do Piauí). Na cabeceira da praça, o Fórum e a Matriz de N. Sra. do Amparo. 1910. Autor desconhecido (SILVA FILHO, 2007). |
Havia em Teresina três irmandades:
A do Santíssimo Sacramento, provavelmente erigida logo após a trasladação da sede da paróquia do Poti Velho para Teresina. Encarregava-se do esplendor do culto.
A de São Benedito, criada no dia 6 de janeiro de 1861 e instalada no mesmo dia sob os auspícios do mui reverendo arcipreste, vigário Mamede Antônio de Lima, na igreja matriz. Tinha por finalidade honrar e festejar São Benedito todos os anos no dia de Reis.
A de Nossa Senhora das Dores, que se encarregava da manutenção da Santa Casa de Misericórdia até o ano de 1890, quando o governo civil tomou conta da administração do hospital. Não encontramos a data de sua ereção.
Aos 9 de fevereiro de 1906, no edifício que ao depois foi o paço Episcopal, instalou-se a primeira Conferência Vicentina da capital, em a presença do Sr. Governador do Estado, Dr. Arlindo Nogueira, do Sr. vigário geral, Cônego Raimundo Gil da Silva Brito e de muitas pessoas gradas. Foi eleito presidente da Conferência o desembargador José Furtado de Mendonça. A iniciativa desta fundação deve-se ao Sr. cônego Joaquim de Oliveira Lopes.
D'Alencastre informa que em 4 de dezembro de 1797, tem começo na barra do Poty a edificação de uma capella com a invocação de N. S. do Amparo. Pereira da Costa diz que a capela passou a servir de igreja matriz, quando, em virtude da lei de 15 de setembro de 1827, foi criada uma freguesia na localidade com aquela mesma invocação.
A construção da Matriz de N. Sra. do Amparo de Teresina se deu por uma subscrição de José Antônio Saraiva, em sincronia com o plano da cidade. Moysés C. B. informa ainda que a pedra fundamental foi lançada a 25 de dezembro de 1850... e as obras ficaram concluídas em 1862. Pereira da Costa acrescenta que em 25 de dezembro de 1852 foi inaugurada a capela-mor da igreja de N. S. do Amparo de Teresina [...] bem como [...] a trasladação procissional da imagem da padroeira da velha igreja matriz do Poti, para essa nova em construção, que no ano seguinte passou a servir de igreja matriz, quando se deu a transferência da sede da paróquia.
Essa construção é atribuída ao mestre-de-obras João Isidoro da Silva França, que também teria trabalhado na ampliação e restauração da Matriz de N. Sra. do Ó e Conceição de Valença, entre os anos de 1845 e 1848. Foi profundamente reformulada, pouco ou nada tendo a ver com a igreja baixa registrada em fotografia do princípio do século.
Diz Moysés C. B. que a ponte de ligação entre as torres é obra do Mons. Joaquim Chaves, quando do centenário da cidade, conforme projeto do engenheiro Cícero Ferraz de Sousa Martins. Chamou-nos atenção nessa igreja as cancelas de ferro do batistério, cujo desenho é igual ao das cancelas da galilé da Igreja de N. Sra. do Rosário de Ouro Preto/MG, diferenciadas apenas no menor dimensionamento e seções das barras.
Matriz do Amparo após reforma e alterações significativas, a exemplo do acréscimo das torres, na administração do vigário Mons. Joaquim Chaves. |
Prosseguindo a narrativa de nossa Matriz, acrescentamos os subsídios históricos de Mons. Chaves sobre as imagens antigas de Teresina, em destaque temos o dilema das duas imagens da Padroeira do Amparo, a do Poty velho e a da capital. Outras imagens advindas todas do século XIX, período que a estruturação católica da cidade se formou, por iniciativas ora governamentais, ora populares:
A mais antiga imagem de culto público venerada em Teresina é a de Nossa Senhora do Amparo, a velha, como se diz comumente. É de madeira e mede 1m24 de altura. Aqui chegou a 6 de fevereiro de 1852. Sabemos disto por este oficio que o Pe. Mamede Antônio de Lima dirigiu para Oeiras, para o Dr. José Antônio Saraiva, governador da Província, e que transcrevemos na íntegra:
"Ilmº. e Exmº. Sr.
Tenho a honra de comunicar a V. Excª. que a Imagem da SS. Virgem da Senhora do Amparo já aqui se acha desde 6 do andante, sem que ela sofresse o mais leve dano na condução.
Deus guarde a V. Excª.
Vila Nova do Poti, 9 de fevereiro de 1852.
Ilmº. e Exmº. Sr. Dr. José Antônio Saraiva, Presidente da Província.
Pe. Mamede Antônio de Lima".
Como se vê, o Pe. Mamede veio do Poti receber, aqui, a imagem de Nossa Senhora do Amparo que o governador enviava para a igrejinha, ainda em construção, da Vila Nova do Poti, hoje Teresina. Como a construção da igreja de Teresina ainda não estivesse concluída, mui naturalmente o vigário levou a imagem para a igreja do Poti Velho, onde já havia uma outra, também de N. Senhora do Amparo, pois não se pode supor, por muito tempo, uma igreja dedicada a um patrono determinado sem a respectiva imagem de sua invocação, e a igreja do Poti Velho desde 1832 tinha como patrono N. Senhora do Amparo.
Fica assim esclarecida a confusão que até hoje se fez com estas duas imagens de N. Senhora do Amparo a de Teresina e a do Poti Velho. A de Teresina é a de que se fala no oficio do Pe. Mamede, que aqui chegou a 6 de fevereiro de 1852 e que ainda hoje se venera na matriz do Amparo. Foi ela que, na tarde de 24 de dezembro de 1852, veio em procissão do Poti Velho para Teresina para tomar conta de sua igreja que naquela tarde se inaugurou na nova capital.
A imagem do Poti Velho também veio para cá, algum tempo depois, quando a igreja de lá, já muito arruinada pelo abandono, foi demolida. Ficou na Capela da Santa Casa de Misericórdia. Já agora, no governo diocesano do Exmº. Sr. D. Severino Vieira de Melo, foi levada de volta para a igrejinha reconstruída do Poti.
Em dezembro de 1858 chegou a Imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos.
Em princípios de 1865 foi encomendada para Portugal uma imagem do Senhor Morto. A encomenda foi feita pela Irmandade do Santíssimo Sacramento. Passado um ano, como a imagem não chegasse, espíritos maldizentes começaram a espalhar na cidade que a diretoria da Irmandade se havia metido no dinheiro do santo, pura e simplesmente, tapeando os contribuintes. A diretoria reagiu reclamando para a casa do Rio que se encarregara da transação. Em março de 67 foi publicada na imprensa de Teresina a resposta de Portugal vinda do Rio pelo correio. Dizia assim: "Sr. José Bento Valadares. Lisboa. Porto. 1º de setembro de 1866 - Amigo e Sr. - Recebi o seu telegrama. A imagem do Cristo está em construção. São peças que se não podem fazer com a brevidade que se deseja, porque torna-se necessário que a madeira seja bastante seca, para que se não rachem no futuro, muito mais indo para clima quente. Conto que ainda este ano ficará pronta. - Clemente da Silva Nunes". Calaram-se os maldizentes, mas a imagem só veio chegar em princípio de 1868. Foi benzida, solenemente, na igreja do Amparo, às horas da manhã do dia 23 de fevereiro daquele ano. Ficou exposta à admiração do povo até as nove horas da noite daquele ano.
A 8 de março do mesmo ano, com a mesma solenidade, era benzida a imagem de Nossa Senhora da Soledade.
Estas três imagens são as que ainda hoje se veneram na igreja do Amparo, e saem, todos os anos, nas procissões da Semana Santa.
Encontramos notícia de uma imagem de Nossa Senhora do Carmo venerada na Capela dos Educandos de Teresina, já no ano de 1860. Infelizmente não chegou até nos.
A Capelinha, que depois foi a igreja de Nossa Senhora das Dores, recebeu sua bênção solene em fevereiro de 1867. Era a matriz da freguesia do mesmo nome. Possuiria uma imagem de Nossa Senhora das Dores já naquele tempo? Será a velha imagem que ainda hoje se encontra no arquivo da catedral? Provavelmente sim. Nada, porém, de positivo encontramos para uma afirmação categórica a estas perguntas.
Nossa Senhora do Amparo, Bom Jesus dos Passos, Senhor Morto e Nossa Senhora da Soledade são, com toda a certeza, as mais antigas imagens de culto público da cidade de Teresina que ainda subsistem.
Referências:
CHAVES, Mons. Joaquim. Teresina, subsídios para a história do Piauí. Teresina-PI, 1952.
SILVA FILHO, Olavo Pereira da. Carnaúba, pedra e barro na Capitania de São José do Piauhy. – Belo Horizonte: Ed. do Autor, 2007. Vol. 2.