Nota Biográfica: Dom Octaviano Pereira de Albuquerque, 2º Bispo do Piauhy (1914-1922)
Saudado pelo Bispo do Maranhão, D. Francisco de Paula e Silva, assumiu o Senhor Dom Octaviano Pereira de Albuquerque, o governo diocesano do Piauí, no dia 23 de setembro de 1914. Paraninfaram-no os Drs. Miguel de Paiva Rosa, governador do Estado, e João Cruz. Foi seu primeiro vigário geral, o Mons. Raimundo Gyl da Silva Brito e para o cargo de secretário particular, convidou os padres José Gomes da Silva, Gastão Pereira e, “ultimamente o vigário de Amarante”, que por não aceitar o cargo – por razões de saúde foi alvo de prevenções do Bispo durante todo o seu governo.
Criou o Cabido Metropolitano, mesmo na condição de “honorário”, para que o Bispo não se visse privado de sua corte, fez cônegos, sem nenhuma obrigação de corte, os padres: Aristheu do Rêgo Barros, Cícero Portela Nunes, Antônio Bezerra de Menezes, Gastão Pereira da Silva, Marcos Francisco de Carvalho, Antônio Cardoso de Vasconcelos, Miguel dos Reis Melo, João Hipólito, Constantino Boson e Lima, Clarindo Lopes, João Clementino de Melo Lula e, os já cônegos, Acylino Baptista Portella Ferreira (Cabido do Maranhão) e Fernando Lopes e Silva, da Paraíba. Reportando-se às novas dignidades criadas por D. Octaviano, e ao número de padres a elas elevados, diz o redator do Livro de Tombo, haver o Bispo tornado “vermelho” o pequeno clero do Piauí. Perspicaz observação.
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Dom Octaviano com seu Clero Diocesano do Piauí |
Exonerando-se do cargo, o Mons. Gyl, que se não adaptara ao modus vivendi de D. Octaviano, “a quem a presença agradável, o trato fino e fidalgo, mais interessavam que os predicados de espírito”, assumiu o lugar de vigário geral da Diocese, o Cônego Cícero Portela Nunes e fez com o título de monsenhor. Com referência à sua substituição pelo Cônego Antônio Bezerra de Menezes, diz o cronista do Tombo, haver demorado mais pelo fato de o Padre Cícero “dispor-se a esperar ser realmente nomeado monsenhor, pois não lhe convinha baixar de sua dignidade já popular”. Com o afastamento do Mons. Gyl, por incompatibilidade de gênio e do Mons. Lopes – a quem desde o início, tratara, o Bispo, acintosamente, convidando Miguel Rosa, “inimigo terrível do Monsenhor”, para paraninfar-lhe a posse-, tentou D. Octaviano olvidar o mérito dos dois insignes sacerdotes, artífices da Diocese do Piauí. Não o conseguiu. Faz-lhes justiça, a História.
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Dom Octaviano com os frades capuchinhos das Santas Missões |
Fechados o Seminário e o Colégio Diocesano, cometimento a que não hesitou nosso segundo Bispo, passou D. Octaviano a residir no prédio que servira aos referidos estabelecimentos, “onde fez ostentar na fachada, o seu brasão de armas”. Essa resolução, sobre ser vaidosa, fê-lo “mal visto pelo clero que não via meio de ser bem sucedido em tão grande messe de tão poucos operários”. Quanto ao prédio que, de novo, destinara ao Colégio Diocesano, já então chamado de São Francisco de Sales, conseguiu D. Octaviano concluir toda a fachada principal em 1922, sob orientação do Engenheiro João Faustino. Também ali ficaram as armas do Bispo.
Conseguiu os serviço da Congregação do Imaculado Coração de Maria para as Santas Casas de Misericórdia de Teresina e Parnaíba. A ele deve-se a criação da Igreja de São Benedito em paróquia e a organização da Associação São Francisco de Sales, pelas vocações sacerdotais. Em 1920 conseguiu a criação da Prelazia do Senhor Bom Jesus do Gurguéia, efetivamente, seu maior feito pastoral. Confiando-a aos mercedários, fez-se ainda, a justiça histórica de trazê-los de volta ao Piauí, para cuja evangelização, também, contribuíram. Referindo-se o cronista do Tombo, às visitas pastorais de nosso segundo Bispo – e ele as fez em grande número – realizadas quase sempre a cavalo, comenta-lhe o comportamento, citando palavras suas: “Andar a cavalo é o maior sacrifício que faço pelo Piauí”. Conclui o mordaz redator: “Então não faz nenhum”. Definiu-lhe assim, a personalidade, o Padre Benedito Castro.
"Homem de aparência marcante e personalidade forte. Inimigo de intrigas e ressentimentos pessoais. Cego para situações pequenas. Acreditava na juventude estudante. Buscava pessoas estudadas. Sua cultura a serviço da Palavra de Deus: no sólio, no altar, no púlpito, no confessionário ou no leito do doente. Guardião e propagador da Doutrina Oficial da nossa Igreja. Nas visitas a Roma de Pedro conheceu quatro papas: Pio X, Bento XV, Pio XI e Pio XII. Pontífices para os quais dedicou serviço episcopal e obediência irrestrita. Sacerdote de comportamento marcado por seu fortíssimo e único jeito de ser. Por onde esse bispo ia, não passava desapercebido. Cofre de uma alma sacerdotal eucarística e caritativa, sangrada por defeitos e ornada por virtudes".
"Nasceu num Rio Grande do Sul valente, em tiroteios bélicos de fronteiras uruguaias antigas. Seu episcopado conheceu duas guerras mundiais. Testemunha vítima da ditadura Vargas. Veio para um Piauí de intrigas, cujos políticos anti-Igreja e outros ateus, prenderam em domicílio, e planejaram jogar no Rio Parnaíba o seu seráfico antecessor. Foi para um Maranhão tumultuado pelas discórdias ditatoriais. Viveu no Mosteiro de São Bento acusado por fuxicos de sacristias e pela Imprensa Timbira de ter abandonado suas ovelhas. Umas o esperavam chorando. Outras, envenenadas, vomitavam-lhe verdadeira ojeriza. E foi este bispo de coração impetuoso, com veias entupidas de carências e outras circulantes de bondade sim! Foi esse Dom Octaviano Pereira de Albuquerque que o Espírito Santo mandou para Campos. Para a sua última Catedral do Santíssimo Salvador, 2ª pessoa da Santíssima Trindade. São os mistérios de Deus Pai. São os caminhos da vida".
D. Otaviano Pereira de Albuquerque faleceu em 3 de janeiro de 1949, em Campos, Estado do Rio Janeiro, para onde fora transferido por ato de Pio XI, em dezembro de 1935. Como passara antes, pelo Arcebispado de São Luís do Maranhão (1922-1935), ostentava – por concessão da Santa Sé – o curioso título de Arcebispo-Bispo de Campos.
Referências:
CARVALHO JR, Dagoberto Ferreira. História Episcopal do Piauí, 1980.
SANTOS NETO, Antônio Fonseca; LIBÓRIO, Paulo de Tarso Batista.
OCTAVIANO. Teresina: Nova Fronteira. 2018. (Sucessores dos Apóstolos em
Teresina. Vol. 2).