Dom Severino e a Coluna Prestes no Piauí (1925-1926)
Dom Severino Vieira de Melo (1924-1955) |
"Um gesto heróico que o Piauí jamais esquerá".
No começo do ano de 1925 chegou ao Piauí a chamada "Coluna Prestes". Entrou pelo sul do Estado, praticamente em marcha triunfal, porque as populações não lhe ofereciam resistência. Por medo de violências, pois andavam fortemente armados, todos lhe davam os mantimentos reclamados (carnes, legumes, farinhas) e até montarias. Em Dezembro a "Coluna Prestes" acampou no povoado de Natal (hoje Monsenhor Gil) a 60 quilômetros de Teresina, donde pretendia atacar Teresina.
A população teresinense estava apavorada, apesar das providências tomadas pelo então governador Matias Olimpio de Melo. Pequenos confrontos deram ao Piauí uma grande vitória - o Tenente Costa Araújo conseguiu prender Juarez Távora, um dos líderes da Coluna. Esta prisão causou pânico na cidade. Todos temiam uma reação por parte de Luís Carlos Prestes, em defesa de seu líder revolucionário. As tropas legalistas estavam prontas para rebaterem qualquer ataque.
Foi neste momento cruciante que apareceu a intermediação de Dom Severino. O Bispo do Piauí se ofereceu para ir pessoalmente ao acampamento dos revoltosos, não negociar a paz, mas o afastamento das tropas revolucionárias.
Após longa conversa com Juarez Távora, no dia 31 de Dezembro de 1925, recebeu dele uma carta ao Comando revolucionário, convencendo-o da inconveniência de um ataque a Teresina. De posse da missiva, tendo como armas a cruz peitoral e a fé, partiu Dom Severino para Natal, a cavalo, acompanhado apenas do Pe. Cristino Santos e de um guia. Isto aconteceu no dia 2 de Janeiro de 1926.
Uma légua antes da vila, teve a sua marcha interrompida por um piquete de soldados revoltosos, comandados por um sargento. Explicado o motivo de sua viagem, e depois de provar não conduzir arma alguma, o Bispo prosseguiu na sua marcha, sendo todavia acompanhado por soldados, afim de que não viesse a sofrer algum desacato. Um quarto de légua adiante, encontrou outro piquete de soldados, maior do que o primeiro, comandado por um Capitão chamado Odilon. Dadas as necessárias explicações e entregue a carta ao dito Capitão, este reconheceu a letra de Juarez e, lendo-a pôs-se a chorar dizendo: "O Coronel Távora foi preso!"
Daí Dom Severino, acompanhado de um sargento, e levando a carta, marchou para Natal, aonde chegou às 4 horas da tarde do dia 3 de Janeiro. Não encontrou mais o grosso das tropas que, batendo em retirada, já estavam distantes duas a quatro léguas em Nova Olinda e Melancias.
Coluna Prestes, tenentista e revolucionária; no centro sentados, os líderes: Luís Carlos Prestes, Miguel Costa e Juarez Távora. |
O Comandante Cordeiro de Farias, a quem foi apresentado, prontificou-se em levar a carta ao General Miguel Costa, chefe supremo das forças revolucionárias, pedindo a Dom Severino que não regressasse sem falar com o General que, sabendo de sua vinda, fazia questão de se entender com S. Exª. De fato, às 3 horas da madrugada do dia 4, Miguel Costa e Luís Prestes se fizeram anunciar ao Sr. Bispo e, de manhã cedo o procuraram.
Às 7 horas D on Severino celebrou Missa, à qual assistiram os dois chefes revoltosos, e recolheu-se aos seus aposentos, na casa do vigário. Momentos depois, deram entrada ali o General Miguel Costa e o Coronel Luís Carlos Prestes, o Tenente Coronel Cordeiro de Farias e o Capitão Dr. Lourenço Moreira Lima. Os cinco em compartimento reservado, parlamentaram longamente das 8 às 9 e 1/2 horas... E, conquanto já estivessem em retirada, o General prometeu satisfazer ao pedido do Bispo, não permitindo mais a continuação do ataque a Teresina. Despedindo-se acrescentou: "Pode ainda haver algum fogo para esses dias, porque estou sem ligação (ligação é meio de comunicação) para as minhas tropas que andam dispersas; mas vou providenciar para que tudo fique terminado."
O Bispo regressou de Natal às 11 horas do dia 4 de Janeiro, trazendo a resposta da carta, e aqui chegou no dia 5, vinte e quatro horas depois. O prisioneiro já havia embarcado para o Rio" (17).
Todos agradeceram a Dom Severino ao anunciar a vitória que, de outra forma não seria alcançada, sem sangue e destruição.
Referência:
MELO, Padre Claudio. Piauí, Diocese e Província Eclesiástica. Arquidiocese de Teresina-PI, 1993. p. 55-57.