GUERRA À IGREJA - Jornal A CRUZ, 1º de janeiro de 1891
GUERRA À IGREJA*
Para que fique indelevelmente gravado no espírito dos nossos concidadãos quão cruel tem sido para nossa santa religião o Governo Provisório, que parece ter tomado a peito a ideia de descristianizar a pátria brasileira, resolvemos publicar em todos os números deste periódico, a soma dos grandes males com que o mesmo Provisório nos tem dotado.
São eles:
I. Os bens da Egreja ficam sujeitos às leis de mão morta.
II. A República só reconhece o casamento civil, que procederá sempre ao casamento religioso.
III. Será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos.
IV Os cemitérios terão caráter secular e serão administrados pela autoridade municipal.
V. Nenhum culto ou Egreja gozará de subvenção oficial, nem terá relações de dependência ou aliança com o governo da União ou o dos Estados.
VI. É excluída do país a Companhia de Jesus e proibida a fundação de novos conventos ou ordens monásticas.
VII. São inelegíveis para o Congresso Nacional os clérigos e religiosos do qualquer confissão.
(...)
Entra, hoje, “A Cruz”, desassombrada, de fronte erguida, no segundo ano de sua calma, mas benéfica e gloriosa existência.
Iniciando os seus primeiros passos nos escabrosos caminhos do jornalismo, impelida unicamente pela luminosa inspiração dessas ideias sublimes, que cada vez mais se avigoram no espírito da nação, e que tem a mais bela e varonil encarnação nesta vigorosa falange de fervorosos católicos, a que muito de coração nos desvanecemos de pertencer, teve de arrostar, mas sempre no terreno legal, com as ameaças estrepitosas da prepotência, que, empunhando a clava detestável do despotismo ditatorial, tentava a todo o transe reduzi-la ao mutismo bestial do pária, à impotência desesperadora da covardia,
Os subservientes tributários do governo, esses inconscientes sem crenças, sem patriotismo — que mercadejam com os seus vãos e ruidosos quando efêmeros e insinceros aplausos, cercavam-na de agourentas profecias, assinavam-lhe bem poucos dias de existência, e parvamente iam-se dos seus generosos esforços, acastelados na máxima fatídica de que “o poder é o poder”, sem se lembrarem de que ela vinha simbolizar, na nossa terra, um poder altamente incontrastável — o poder sublime da fé — esta divina inspiradora dos prodígios de resignação, de coragem, de perseverança dos primeiros tempos do Cristianismo, e que são os alicerces inconcussos da sua admirável grandeza.
Fonte: A CRUZ – órgão do partido católico do Piauhy. Ano II, nº 21, Theresina, 1 de janeiro de 1891.
*Primeiro jornal católico do Piauhy, criado pelo Cônego Honório José Saraiva, vigário da Freguesia de Nossa Senhora do Amparo, então Diocese do Maranhão, em 1890.