Nota Biográfica: Dr. Elias Firmino de Sousa Martins (1869-1936)

Elias Firmino de Sousa Martins, nasceu na cidade de Picos, a 03 de fevereiro de 1869; filho do Dr. Firmino de Sousa Martins (vice-presidente da Província do Piauí, nos anos de: 1879; 1880; 1881; 1883; 1889), e de Júlia de Sousa Martins. Casado com Cândida Verônica da Cruz, filha de João da Cruz Santos (segundo), Barão de Uruçuí. Teve nove filhos com D. Cândida: Maria Júlia Cruz Martins; João Elias Cruz Martins; Luis Vitório Cruz Martins; Raimundo Firmino Cruz Martins; Ângelo Miguel Cruz Martins, f. solteiro. Verônica Maria Cruz Martins e Lina Cristina Cruz Martins, irmãs missionárias de Jesus Crucificado. José Nilo Cruz Martins; Maria de Lourdes Cruz Martins.

Vivendo os primeiros anos de sua vida em fazendas de gado, teve também muito cedo o despertar para as letras e o combativo espírito de jornalista político e polêmico, que viria a ser. Formou-se em Direito no ano de 1890, na velha "Salamanca do Recife", Faculdade de Direito do Recife (LEÃO, 2019). Herdeiro das velhas heranças dos coronéis e sesmeiros da família Sousa Martins, juntamente com o pai, protagonizou a elevação do tempo do Bacharéis do Império, nos entraves políticos da Província do Piauhy.

Político da 1ª República, deputado federal por duas vezes, quase sempre em oposição aos governos, redigindo editoriais que publicava nos jornais. Membro da junta governativa do Piauí de 21 a 29-12-1891. Procurador da República (1897/9 e 1915/7). 

Um dos organizadores do Partido Católico (1890-94) e do Partido União Popular (1910-1912), também de orientação católica oposicionista. Elegeu-se deputado Federal em duas legislaturas (1897-1899 e 1915-1917). 
 
Criado em 1890, o Partido Católico de Teresina, foi um de seus membros, juntamente com o pai.
Dentre seus organizadores estavam os cônegos Acylino Baptista Portella Ferreira, Honório José Saraiva e Raimundo Gil da Silva Brito; e os leigos Gentil Pedreira, José Pereira Lopes e Manoel Rodrigues de Carvalho. 
 
O Partido Republicano Legalista foi criado em 09 de janeiro de 1892, com os dissidentes do Partido Federal e Partido Católico. Na solenidade de criação, foram aclamados membros do diretório: João da Cruz e Santos, o Barão de Uruçuí (presidente), Cônego Honório José Saraiva (vice-presidente, pelo Partido Católico), Elias Firmino de Sousa Martins, Firmino de Sousa Martins, Raimundo de Arêa Leão, José Pereira Lopes, Gil Martins, João de Castro Lima e Almeida, Enéas José Nogueira e José Eusébio de Carvalho Oliveira (DIAS, 2010).
 
Jornalista, redigiu "A Atualidade" (1889), "O Estado" (1892), "O Diário" (1893), "O Apóstolo" (1909-1912), "Jornal de Notícias" (1917). Fundou o "República" (1896/9). 

Dentre suas obras publicou: "Guerra Sectária" (1910) "O Poder das Trevas" (1913), "Frei Serafim de Catânia” (1917), "Operário da Boa Vinha", sobre o cônego Acylino Batista Portela Ferreira (1920), "O Devaneio da Ambição", "Apelo aos Homens de Bem" e "Fitas" (1920). 

Em seu primeiro momento como jornalista, atuou, em 1893, no jornal O Diário, de oposição ao governo do novo interventor federal Coriolano de Carvalho e Silva (1892-1896). Em decorrência de seu enérgico engajamento de oposição acaba preso em 1894 por crime de injúria contra o governador, juntamente com o seu colega de redação José Pereira Lopes, por sentença de 6 de março, dada pelo juiz Dr. José Furtado de Mendonça, por meio da qual ambos foram condenados a sete meses de prisão simples (FARIAS, 2022).
 
No entanto, Martins, mesmo após fastidioso episódio, continua a sua atuação na oposição aos governos estaduais prepostos e, em 1896, entra para redação de República, em oposição ao governo de Raimundo Arthur de Vasconcelos (1896-1900). 
 
Mais tarde, na transição dos governos de Anísio de Abreu para o de Antonino Freire, encabeça-se na luta político-religiosa que o Bispado de Dom Joaquim já estava em vias de incorrer, com a liderança clerical do Pe. Joaquim Lopes, e pelo veículo de divulgação do ideal ultramontano no Piauí, o jornal O Apóstolo (1907-1912). (FARIAS, 2022).

Elias Martins foi um dos principais protagonistas da chamada "Questão Religiosa no Piauí" que se arrastou de 1909 a 1913; e como leigo, foi o principal líder da reação católica. Monsenhor Cícero Portella Nunes, em 1920, comenta o estopim da "Questão" durante o primeiro bispado de Dom Joaquim:

"Foi tempestuoso o seu episcopado no Piauhy. Publicando uma pastoral em que apresentava ao clero e fiéis a encíclica Pascendi dominici gregis do santo padre Pio X, inculcou-lhes a doutrina da Igreja, sobre a Maçonaria. Tanto bastou para se desencadear, na diocese, uma luta tremenda que, começando pela doutrina, acabou nas retaliações pessoais.
 
O clero e os católicos estiveram, ainda, no mais aceso da luta, ao lado do chefe da Igreja. Formou-se um partido católico, sob a direção do dr. Elias Martins, um estilista de raça e um general envelhecido nas batalhas políticas, que, em O Apóstolo, secundado mais tarde por monsenhor Lopes e outros, defrontou memoráveis refregas." (ALMANACH, 1937).

Em O Poder das Trevas de 1913, Martins empreende sua crítica mais pessoal e mais grave, contemplando em uma breve narrativa apologética, marcado pelo estilo polêmico, de fortes artifícios de linguagem retórica, utilizando alegorias religiosas e históricas para caracterizar o cenário, no qual foi participante, dos conflitos entre a Igreja e a Maçonaria de 1909 a 1912.
 
Desse trabalho de narrativa e memória, obtemos a posição mais declarada de Martins contra “O Poder das Trevas”, nomeação que o autor confere a Maçonaria e seus planos secretos de subversão no governo do estado; e também temos a protagonismo do Padre Lopes no conflito, como representante da causa católica e de seu sofrimento; Martins promove uma versão católica da “Questão Religiosa no Piauí”, conferindo uma gravidade a situação de seu tempo, equiparado a todas as outras perseguições que a Igreja Católica sofrera durante a História, e como ele mesmo argumenta sobre o auge da conspiração maçônica:

“Esmaguemos a infame, - é o grito de guerra dos coligados do inferno contra Cristo e a Igreja Católica, apostólica, romana. Judeus, protestantes e ateus, todas as seitas religiosas e todos os sistemas chamados filosóficos, inimigos entre si, - ligam-se para guerreá-la, usando todas as armas, toda as ciladas, todos os engodos. O elo misterioso, desse pandemônio, é a maçonaria, cabeça invisível, soprando aqui, ali e além o pavoroso incêndio da destruição." (In: FARIAS, 2022).
 
 
Frei Serafim de Catânia, 2ª edição de 1986 e Fitas, edição de 1920

 

Após intensos combates e polêmicas a frente da União Popular, Martins passa a se dedicar mais a obras de cunho apologético e biográfico; a exemplo de seu mais conhecido trabalho: Frei Serafim de Catânia lançado em 1917, escrito a pedido do então vigário Monsenhor Joaquim Lopes; sendo um trabalho em esboço biográfico sobre o frade capuchinho italiano Serafim de Catânia (1812-1887), que permaneceu no Piauí de 1874 a 1886, e empreendeu uma imensa obra missionária na capital Teresina, e a construção laboriosa da igreja São Benedito no alto da Jurubeba; o trabalho de Elias já denota uma narrativa de heroificação e até de canonização do frade estrangeiro que é caracterizado por sua vida de humildade e entrega a obra de salvação das almas; e desse trabalho o autor faz uma espécie de louvação do clero e de seus insignes, destacando além do próprio frei. Serafim, as figuras dos ilustres: cônego Acylino; Padre Ibiapina; frei. Doroteu; Mons. Joaquim Lopes; Mons. Raimundo Gil; dentre outros.

Em 1920, foi admitido como sócio do Instituto Histórico-Geográfico do Piauí; juntamente com: Monsenhor Cícero Portela Nunes, Francisco Brandão Júnior e Francisco Portela Parentes; e na edição da Revista do IHGP publicou seu trabalho biográfico: Operário da Boa Vinha", sobre o cônego Acylino Batista Portela Ferreira (1920).

No mesmo ano de 1920, Elias Martins lança seu polêmico Fitas pela tipografia do Jornal de Notícias. Em sua maturidade desenvolve um trabalho crítico mais extenso sobre as mudanças radicais ocorridas em seu tempo, em especial as modernizações tecnológicas e sociais que o advento do Cinema trazia para a nova percepção de mundo que a sociedade ocidental contemplava; em Fitas Martins promove sua crítica contra as formas sutis de manipulação social, nomeando as novas invenções modernas, a exemplo do Cinematógrafo, de “invenção do demônio”; e buscou alertar a população católica dos perigos para a vida familiar e moral cristã, que tais novidades poderiam proporcionar.

Nos últimos anos de sua vida, Martins viveu na fazenda São Miguel, no Maranhão, como que num retorno às origens, às primeiras verdades. Morreu no dia 16 de outubro de 1936, em Teresina (LEÃO, 2019).

Martins Vieira, em panegírico fúnebre sobre Elias Martins, em 1937 escreveu:

"Atingindo a fase indecifrável e decisiva da velhice, o coração tornou-se-lhe um estuário para a convergência de comiserações infinitas, que o envolviam como um sudário de trevas, e as vezes chegavam lhe visões das longas jornadas pelas sendas políticas, relembrando panfletos candentes que escrevera, os debates na Câmara Federal e as lutas pelos jornais em que a sedução das frases flamejantes empolgava tanto quanto o fulgor da linguagem fluída e temperada, a elegância de estilo e as qualidades de narrador.

Agradável maneira de dizer convincente, fisionomia serena que às vezes se abria num riso franco e sadio, falava, dando à voz um tom eufônico e cristalino, cujas palavras facilmente manejadas lhes asseguravam os atributos característicos de chefe, jamais guardando ódios nem rancores."

Em uma publicação de 1911, assinada por ilustres sacerdotes piauienses fortemente engajados na “União Popular”, constatamos um forte apoio clerical ao líder leigo da causa católica, baseados na credibilidade social e na força de sua personalidade, equiparando-a com outros nomes notáveis do catolicismo militante:

"Não assistimos em pleno século XX, a campanha da infâmia maçônica contra Windthorst, o glorioso fundador do “Centro Católico Alemão”, poderosa organização político-católica, que tem sido o assombro da própria impiedade? Não vimos em nossos dias os ataques constantes a Louis Veuillot, o príncipe do jornalismo católico e honesto da França? Não assistimos na Bélgica as calunias torpes e infames, brotadas dos antros infernais, contra os vultos mais eminentes da política cristã e moralizadora? Política de amor e liberdade que tem sido a salvação da gloriosa nação belga? Não estamos presenciando no Rio e em Minas, as maquinações infernais e traidoras dos grandes infelizes, contra os nossos valorosos irmãos de crenças e princípios, Ramalho Ortigão, o invencível, e Furtado de Meneses, o grande mártir do dever? Que têm feito, porém, estes grandes caracteres e ardentes patriotas? – Têm seguido, desassombradamente, o seu glorioso caminho, no cumprimento rigoroso do dever e da honra, conquistando, dia a dia, novos elementos e simpatias inabaláveis e profundas. 
 
É essa, portanto, a nossa atitude: continuaremos, sempre, em toda e qualquer emergência ao lado dos grandes batalhadores da Fé e dos princípios católicos. Aqui em nosso glorioso torrão natal, cerraremos fileiras om torno do Exmº. Sr. Dr Elias Martins, alma feita de luz e de pureza, cujo nome enche de consolação o coração de todo o povo católico do Piauhy e de profunda veneração aos católicos dos outros Estados, nossos irmãos em crenças. Até mesmo aos nossos irmãos transviados e aos espíritos que se dizem emancipados, o nome do Elias Martins inspira confiança o respeito. Os grandes serviços prestados por Elias Martins à causa católica, no Piauhy, são motivos poderosos, para cada vez mais, estreitar laços de nossa eterna gratidão ao grande combatente e impertérrito defensor dos princípios católicos e da política cristã, moralizadora e benéfica. Tem se exposto, em momentos decisivos e dolorosos, ao furor de inimigos rancorosos e pérfidos, na defesa de nossa fé e de nossos princípios.
[...]
Em presença dos atos tão soberanos, do ações tão grandiosas os edificantes, deixamos expressos, aqui, todo o reconhecimento da nossa gratidão eterna o os nossos protestos do mais decidido apoio e franca solidariedade político cristã ao Exmo. S.r. Dr. Elias Martins, braço forte do todo movimento católico social-político do Piauhy. Avante! Desinteressado até o sacrifício, Elias Martins, o verdadeiro Furtado de Meneses piauiense, tem um culto de profunda veneração em nosso coração. Saibam, portanto, os nossos amigos e irmãos de crenças, que, obedecendo à voz da nossa consciência e ao impulso generoso da gratidão, estaremos, sempre, ao lado do Exmº. S.r. Dr. Elias Martins, na hora da dor e da agonia, da paz e do amor, da felicidade e no pranto."

Teresina, 13 do Abril de 1911.
 
Cônego Acylino Baptista Portella Ferreira — Padre Constantino Boson e Lima — Padre Benedito Portella Lima — Padre João Hypólito de Souza Ferreira — Padre Cicero Portella Nunes — Padre Marcos Francisco de Carvalho — Padre Felipe d’Oliveira Lopes — Padre Lindolfo Uchôa — Padre Gastão Pereira da Silva — Padre João Clementino de Mello Lula — Padre Joaquim d’Oliveira Lopes.



Referências:

BASTOS, Cláudio Albuquerque. Dicionário Histórico e Geográfico do Estado do Piauí, 1994.
 
NETO, Adrião. Dicionário biográfico: escritores piauienses de todos os tempos. Teresina: Halley. S.A. 1995.

LEÃO, José Elias Martins Arêa. Prefácio à obra. In. MARTINS, Elias. Frei Serafim de Catânia, 4ª. Edição da APL, 2019.  

ALMANACH PIAUHYENSE, ano IV, Teresina: Gráfica Excelsior, 1937.

DIAS, Carlos Alberto. Atuação político-religiosa do Cônego Honório Saraiva no Piauí e nas cidades de Teresina e Altos de 1883 a 1903. Monografia-IESB, Altos-PI, 2010.

FARIAS, Dário Leno de Souza. Contra o poder das trevas: Elias Martins e a militância católica leiga ultramontana no Piauí de 1910 a 1913. Monografia-UFPI, Teresina-PI, 2022.

UNIÃO POPULAR – Solidariedade. O APÓSTOLO, ano IV, nº 200, Teresina, 16 de abril de 1911, p. 2. 
 
COSTA FILHO, Alcebíades. A Gestação de Crispim: um estudo sobre a constituição histórica da piauiensidade. Tese de Doutorado-UFF, Niterói-RJ, 2010.

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