Trecho da Carta Pastoral de Dom Joaquim Antônio d'Almeida - Bispo do Piauhy: Sobre a Maçonaria em face da condenação ao Modernismo da Encíclica "Pascendi Dominici" do Papa São Pio X, 1908


Dom Joaquim, Bispo do Piauhy (LIBÓRIO, Paulo de Tarso Batista; SANTOS NETO, Antônio Fonseca. Joaquim, sucessores dos apóstolos em Teresina, 2016).



Carta Pastoral de Dom Joaquim Antônio d'Almeida - Bispo do Piauhy: Anunciando o Jubileu Sacerdotal do S. S. Padre Pio X e apresentando ao Clero e fiéis de sua Diocese, a Encíclica "Pascendi Dominici" sobre o "modernismo" e o "Motu Proprio" Præstantia Scripturæ Sacræ.
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D. Joaquim A. d'Almeida, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica Bispo do Piauhy.

Ao Clero e fiéis da mesma Diocese Saudações, paz e bênção.

Com os joelhos em terra e as mãos postas elevamos nossos olhos aos Céus e damos mil graças a Jesus por vermos cumprida a promessa que fizera aos Apóstolos e aos seus Sucessores.

Non relinquam vos orphanos: veniam ad vos, S. J. XIV, 18. Paracletus Spiritus Sauctus.... ille vos docebit omnia. S. J. XIV, 26.

Órfãos não ficaram os Apóstolos, órfãos não ficaram seus sucessores: o Papa - o Santo Padre, os Bispos, os discípulos de Jesus, guardas vigilantes da doutrina do Mestre. Os Sacerdotes, continuadores da bela missão de salvadores das almas, os fiéis, membros da Igreja, objeto dos cuidados o zelo da graça divina, todos podem e devem proclamar em alta voz: Deus nobiscum, Jesus está conosco.

Poderíamos dividir a humanidade em dois partidos: um do bem e outro do mal. O primeiro, dirigido por Jesus, cujo Representante fiel é o S. Padre, o Chefe Supremo da Igreja Católica; o segundo, dirigido pelas paixões, pelos vícios e apetites, cujo chefe é Lúcifer, pai da mentira, sedutor sagaz e mais sábio que os homens.

Em dois campos vastos e opostos se trava a luta do bem contra o mal e deste contra aquele.

(...)

"A maçonaria fala na língua vulgar de cada nação; nós por exemplo, falamos em português. Mas a Igreja Católica fala em latim, que o povo não entende. Dir-me-a agora V. Exª: Qual das duas sociedades é a secreta. 

Isto vem a propósito de um editorial da Gazeta de Notícias de dias atrás, onde referindo-se às eleições a que se vai proceder hoje, de Grão-Mestre e Grão-Mestre adjunto, isto é de presidente e vice-presidente da República maçônica, V. Exª. disse que a maçonaria queria converter-se de novo em arma política.

Foi isto mutatis mutandis, e servatis servandis. A maçonaria nunca serviu de arma a partido, nem a poder algum. Ela é por si um poder superior, potência política, e faz política (desculpe esta frase da moda), por conta própria.

Mas, note a Gazeta, a nossa política não é a do campanário, a do partido A ou do partido B, que se digladiam para empolgar o poder e distribuir pelos amigos e sócios os cargos públicos e todos os prós e percalços de quem governa. Absolutamente não.

A nossa política é a alta política social e nacional.
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É com ela que havemos de resolver a magna questão do fim deste século, a questão social, o socialismo, digamo-lo por fim aos espíritos timoratos que até das palavras têm medo".

Trechos outros há na mesma carta, em que o Sr. Grão-Mestre da Maçonaria atribui à sua seita muitos outros fatos políticos da Nação Brasileira.

Sem querermos nos servir dos fatos que em nossos dias se dão entre os homens dedicados aos movimentos políticos, porque todos se prendem pelo seu espírito à época a mais remota, deixamos aí estas linhas transcritas para boa formação do juízo de quem se interesse pelo bem público e geral. 

É a maçonaria no Brasil anti-católica, não podemos negar.

Quem o diz não somos nós somente, o próprio órgão oficial, o Boletim da Maçonaria do Rio de Janeiro em 1897, que assim fala:

"A Maçonaria respeita todas as religiões, desde que os seus princípios sejam humanos e tenham por base o respeito à liberdade de consciência (sic): Não o faz no entanto em relação ao romanismo porque, como Gambeta - o grande tribuno cuja memória é venerada por todos os livres pensadores - ali vê o inimigo que é preciso combater. Estamos na defensiva, e quem o seu inimigo poupa na mão lhe morre.

A seita é a Maçom: os sectários são os M. M. da Itália, somos nós, somos todos de todos os países, solidários uns com outros; o ideal essencialmente antirreligioso é o ideal maçônico, é a liberdade, é a igualdade, é a fraternidade."

Em vista desta confissão aberta e clara como poderão ainda os irm:. maçons sustentar a religiosidade ou o sentimento cristão da Maçonaria? É querer negar a verdade, sustentar o erro, ex officio, é não ver, tendo vista, é não enxergar, tendo olhos, é não compreender tendo a razão, é loucura, é paixão.

A maçonaria não é simplesmente antirreligiosa, é mais ainda, é ateia. 

Quanto se iludem aqueles que tendo e querendo conservar o nome de católico porque lhes parece boa a religião em que nasceram - a religião de seus Pais, ignoram os meios, as leis e o fim de tão maldita seita - inspiração diabólica! Si, porém, estão ao lado dela, desprezam a Igreja, única encarregada por Jesus Cristo de esclarecer aos homens o caminho que os leva a verdade e a verdade que os encaminha ao bem, a paz - a Deus. Consequências do orgulho humano, que, em uma palavra, é o que enche o mundo, o é de que se enchem e se alimentam os homens desviados!

Deificam-se, tornam-se independentes, senhores absolutos de si mesmos, de seus atos, sem ver diante de si nenhum superior, nenhuma ordem a obedecer, nenhuma lei a cumprir, a ninguém prestar contas, eis o efeito da igualdade e fraternidade ímpias pregadas pelos intelectuais modernos, pelos racionalistas maçons, pelos obreiros reconstrutores do universo. Negar Deus e negar a Deus é a grande preocupação dos espíritos fortes.

Para estes não é leve o jugo divino, porque Deus lhes impõe leis que proíbem licenciosidade a seus sentidos e paixões; é pesado, pesadíssimo o código de Deus para quem se limita a seu pensamento desregrado, a sua vontade corrompida. «Este Deus que assim faz não deve existir para as criaturas, e somente porque estas assim pensam e querem, segue-se que Deus não existe, e se existe nada tem que ver com as ações do homem livre.»

Se para Deus não existir, bastassem a vontade e o juízo de quem não quer que ele exista, para o mal que é a negação do bem, não existir, bastaria que alguém pensasse e quisesse e ele também não existiria.

Deus, suas leis, sua Igreja, sua religião, só têm sua existência, porque o homem quer ou pensa que existam?

Não. Ente superior, independente dos homens, das criaturas, Deus é o que é, suas leis são as manifestações de sua vontade à criatura tirada do nada, sua religião é a forma porque quer que a criatura lhe renda homenagem e submissão. Fora dessa forma, dessas regras que Ele confiou a sua Igreja a quem deu poderes sobrenaturais, não haverá ordem, obediência, respeito, acatamento e dedicação ao Supremo Senhor do Universo, ao Senhor das vidas que não seriam vida sem o seu querer, e deixarão de o ser, queiram ou não queiram, no momento em que Ele assim determinar.

São estes Senhores progressistas sem Deus e sem religião que no Boletim órgão oficial da maçonaria brasileira assim dizem:

"A ideia de Deus em face do progresso, considerada a divindade como força causal, é insustentável.

Para os Judeus, como para os cristãos, Deus é criador de todas as coisas, existiu antes mesmo da natureza. Crer é estacionar, apodrecer como água estagnada.

Olhemos para a frente, nós, os filhos da liberdade, e guiados pela luz da ciência, única fonte da verdade, trabalhemos firmes pelo aperfeiçoamento humano".

"Leiam neste pano de amostra o que pensam de Deus a Maçonaria".

"Leiam os seus sectários os Boletins publicados em que vêm os planos dos espíritos elucidados contra os espíritos fracos, dos fortes contra os covardes - dos sábios da ciência contra os ignorantes do Evangelho, dos propugnadores da liberdade contra os amantes do cativeiro da consciência, dos defensores da verdade contra os sacristões da mentira."

Não sejamos incoerentes.

Nos tempos que atravessamos ouvimos a voz dos filhos levantar-se contra a ordem de seus Pais - a opinião dos membros insurretos quebrar os laços que os prendiam a sociedade que lhes dispensou honras, favores, dignidades e lhes garantia a paz, a vida, o direito e a retribuição do seus méritos.

É com um nome com que querem justificar seu procedimento e condenar o espírito da lei, qualificando os Pais que os mandam e a sociedade que os dirige, de intolerantes.

É a Igreja de Jesus Cristo que, como toda sociedade, tem o direito natural de estabelecer condições de admissão e permanência de seus membros em seu seio, como de eliminá-los uma vez que se tornam refratários e infiéis aos compromissos livremente tomados.

É a Igreja Católica que, debaixo do mesmo ponto de vista, tem o direito de repelir todo aquele que, infrator voluntário contumaz de seus princípios, quer permanecer em seu seio com direito a benefícios e graças, como se fosse o melhor de seus filhos, e mais obediente de seus súditos, o mais fiel de seus servos. 
Intolerante, porquê?

Porque não dá, não assiste, não benze a sepultura e o cadáver daquele que renegou seus dogmas, as verdades ensinadas por Jesus Cristo?

Porque não aceita para padrinho aquele que não pode e nem sabe preencher os fins para que ela instituiu o ofício de apadrinhar crianças?

Será intolerante porque nega exéquias e missas àquele que em vida não cria e nem praticava estes mistérios?

Será intolerante, porque nega absolvição àquele que não crê no poder de perdoar pecados, que Deus conferiu ao Sacerdote?

Será intolerante, porque se nega a servir a quem nunca lhe obedeceu, ao contrário, levou-a ao ridículo com suas palavras, obras e pensamentos, fazendo disto recreio e passatempo para si e para seus companheiros?

Será intolerante, porque nega ao herege, ao pecador impenitente, ao blasfemo e ao ímpio suas bênçãos e graças, aconselhando-os, entretanto, para o bem, ensinando-lhes a verdade, corrigindo-lhes os vícios com a competência e com o exercício da virtude?

Será intolerante, porque não se cala diante do escândalo público ou particular, não é conivente com a desordem na sociedade, não partilha nos recreios ilícitos - caminho dos vícios crônicos, não se vende pelo ouro, mas se conforma com a pobreza, notando-se, porém, que faria, si o tivesse, o bem que, quem o tem somente para orgias, luxo e vaidade, não faz?

A Igreja não é intolerante - vingativa, como querem e dizem; se o fosse não teria a prudência e virtude de ao menor aceno de seu filho ingrato, correr a buscá-lo e salvá-lo, abraçá-lo e perdoar-lhe o crime!


Referência:

Carta Pastoral de Dom Joaquim Antônio d'Almeida -Bispo do Piauhy: Anunciando o Jubileu Sacerdotal do S. S. Padre Pio X e apresentando ao Clero e fiéis de sua Diocese, a Encíclica "Pascendi Dominici" sobre o "modernismo" e o "Motu Proprio" Præstantia Scripturæ Sacræ. THERESINA - Typographia do Apostolado Rua Santo Antonio n. 8, 1908.







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