Nota Biográfica: Dom Paulo Hipólito Sousa Libório (1913-1981) - O Primeiro Bispo Piauiense
Dom Paulo Hipólito de Sousa Libório foi o primeiro Bispo da Diocese de Caruaru-PE e segundo Bispo da Diocese de Parnaíba-PI. Nasceu em Picos, estado do Piauí, a 10 de outubro de 1913. Filho de Carlos de Sousa Libório e de Maria Izabel Ferreira Libório. Ingressou no seminário de Teresina em 02 de fevereiro de 1929. Ao terminar, os estudos denominados “humanidades” e Filosofia, em 1935, viaja a Roma para cursar a Sagrada Teologia. Ordenado sacerdote aos 8 de abril de 1939 na Patriarcal Basílica de São João do Latrão. No dia seguinte presidiu pela primeira vez a Sagrada Eucaristia na Basílica de São Paulo.
De volta ao Brasil, em Teresina foi nomeado professor do Seminário, depois Diretor do Colégio Diocesano, reitor do Seminário e Vigário Geral da Diocese de Teresina. Eleito bispo da diocese de Caruaru pelo Papa Pio XII aos 15 de março de 1949. Sagrado bispo em 5 de junho de 1949, na Catedral de Teresina, no domingo de Pentecostes.
Dom Paulo tomou posse da Diocese de Caruaru em 15 de agosto de 1949 até 1959, quando foi transferido para a Diocese de Parnaíba no Estado do Piauí.
Na obra SEVERINO (2021), o historiador Fonseca Neto narra:
Não é de hoje o dizer-se que a velha Picos é um estuário que fecunda e faz nascer padres para a Igreja. "Chamada Cidade das Vocações Sacerdotais", anotou o padre e historiador campo-maiorense Cláudio Melo *159.
Tem jeito de curiosa ironia essa evidência uma vez que, das póvoas centenárias do Piauí que se fizeram paróquias da cristandade no tempo que medeia do Seiscentos ao Oitocentos, ela é a única que "não nasceu em derredor de uma igreja": Picos é filha dos fluxos de um lugar de feira onde os caminhos do sertão se cruzam com tropas e por tropeiros de toda espécie.
Ressalte-se, porém, que a cidade, no vale do rio Guaribas - mais seco que cheio - tem uma referência grandiosa que faz desse vale uma ruralidade luminar. Trata-se do fato de Picos ter um vínculo histórico indissolúvel, de fé, que é a devoção, que vem do século XVIII, à Senhora da Conceição, da Bocaina: Nossa Senhora da Conceição da Bocaina, primeira capela do vale guaribês. E a segunda dessa invocação a Maria, no Piauí, depois de Aroazes.
Essa brevíssima contextualização é para localizar o acontecimento auspicioso que foi o nascimento nesse vale do filho do Piauí que recebeu a primeira ordenação episcopal: Dom Paulo Hipólito de Sousa Libório. Nascimento que se deu no dia 10 de outubro de 1913, na sede do município de Picos e da paróquia de Nossa Senhora dos Remédios.
Paulo Hipólito estudou no Seminário de Teresina, tendo "recebido batina" em 2 de fevereiro de 1929. Partiu para Roma, nesta capital do mundo católico completando sua formação sacerdotal formal e ordenado padre em 8 de abril de 1939. Tem o pioneirismo de ser o primeiro piauiense a seguir e estudar no Pio Brasileiro, no que operava, Dom Severino, em promovendo a ida, uma prescrição do Concílio Plenário. Ainda em Roma estudou na Universidade Gregoriana.
De volta, exerceu diversas funções junto à Diocese do Piauí, entre as quais, diretor do Colégio Diocesano e de reitor do Seminário, "até sua eleição episcopal" (MELO, 2019, p. 759). Também foi vigário-geral diocesano, com a dignidade titular de monsenhor.
Eleito bispo em março de 1949, foi sagrado no dia 5 de junho seguinte, dia do aniversário de Dom Severino Vieira de Melo, naquele ano, o domingo de Pentecostes. Consta que sua sagração: "foi muito marcante na vida religiosa da Capital [do Piauí] porque primeira e única em Teresina" até então.
Sagração Episcopal de Dom Paulo Hipólito na Catedral de Nossa Senhora das Dores, Teresina-PI (SANTOS NETO; LIBÓRIO, 2021). |
Sagrante o próprio Dom Severino, consagrantes Dom Luiz do Amaral Mousinho, de Cajazeiras, PB, e Dom Francisco Expedito Lopes, bispo de Oeiras, ambos colegas do picoense no Pio Brasileiro. De Pernambuco, uma representação governamental da cidade de Caruaru.
Designado para Caruaru, ali inauguraria a cátedra diocesana. E como já se registrou acima, lugar paroquial onde servira o padre pernambucano Severino Vieira de Melo. Depois sucedeu a Dom Felipe Condurú Pacheco, em Parnaíba, com posse em 22 de novembro de 1959, numa permanência que alcançaria a 18 de maio de 1980, em cujo fecundo episcopado, a exemplo de Dom Severino em Teresina, reabriu o Seminário diocesano local (BASTOS, 1994, p. 341).
Dom Severino (Arcebispo de Teresina) e Dom Paulo Hipólito (Bispo de Caruaru) (SANTOS NETO; LIBÓRIO, 2021). |
Dom Paulo Hipólito escolheu lema episcopal "Deo per crucem", que o inspirou, conduziu e foi por tal conduzido. A propósito desse lema, o padre Cláudio Melo, que vimos citando, disse que lembra o do próprio Dom Severino. Observação que sobre fazer ou não sentido, puxa a lembrança de que a nomeação do monsenhor Paulo para o episcopado pode ser enquadrada entre os grandes gestos do bispo de Teresina, indicando a respeitabilidade que alcançou junto aos diocesanos e no complexo tecido eclesiástico brasileiro. E o desempenho - "proficientemente" - do novo bispo nas funções colegiais do Seminário, na Vigararia Geral diocesana, claro, sua formação intelectual sólida, foram essas qualificantes todas que fecundaram a referida eleição, ao ponto de alguém ter anotado, na Curia, no Tombo, ter sua saída para as altas funções em Caruaru, deixado "um vácuo, aberto no seio do clero de Teresina [pois ele simples padre] de educação primorosa, sabia viver [...] na paz e no bom convívio com os colegas" (AALT, f, 50).
Acrescente-se, dessa memória assentada em sede institucional diocesana, que como "reitor, sabia (padre Paulo) compreender a missão sublime do mestre, fazendo mestres para a Igreja do Mestre [e] como vigário-geral, merecia a confiança dos colegas e de seu bispo". Sobretudo "substituindo o prelado em suas contínuas moléstias", monsenhor Paulo desdobra-se, "cabalmente", nesse encargo, a exemplo das "penosas visitas pastorais, como são as do Piauí" maxime o exercício da "equitação". Contudo, o monsenhor "Paulo é da escola de Dom Severino, nada votando pela lei do descanso". Mas: "É sobrinho do Monsenhor João Hipólito que foi, por anos, vigário exemplar da paróquia de Picos, onde acompanhou Padre Paulo desde os primeiros passos da sua vida. [...]. Está, portanto, o Seminário de Teresina bem servido, como também está bem auxiliada a autoridade diocesana [pois] Pe. Paulo, Vigário-Geral, exerce o cargo com requisitos que exige o Direito" (AALT, f. 23).
Vale acrescentar o que mais disse o lavrador tombista nessa memória formal. Acentuou que, eleito bispo, e ainda nas funções no Seminário e de Vigário-Geral, ele soube reservar parte de seu tempo para elaborar a Carta Pastoral de saudação aos seus diocesanos de Caruaru. Que além dos sagrantes convidados, já referidos acima, Dom Inocêncio, bispo de Bom Jesus do Gurguéia, apresentou-se "espontaneamente" para participar do inédito ato em terras do Piauí.
Em Caruaru, como seu primeiro bispo, sobre os ombros de seu principado episcopal, a Dom Paulo coube implantar a diocese e consolidá-la, pois ali permaneceu de 1949 a 1959.
Filho do sertão do Piauí, soprado pelas cruvianas, quando volta ao Piauí, bispo, em 1959, assume o sólio parnaibano, sob os ares do mar, como segundo titular da Diocese criada em 1944. Realiza extensa e tranquila obra, bem acatada e lembrada.
Em publicação relativamente recente, registra-se a grandiosidade do contexto festivo que acolheu Dom Paulo ao assumir a cadeira episcopal na catedral da Senhora Mãe da Divina Graça. "A semana de solenidades centrada no dia 21 de novembro] foi uma oportunidade para conhecer o rebanho, sentir suas aspirações, avaliar suas potencialidades. Em 8 de dezembro, viveu a alegria da ordenação sacerdotal de seu primeiro Padre, Francisco Bossuet de Sales. Durante os vinte anos que passou em Parnaíba, ordenou mais três padres diocesanos" (OLIVEIRA, 2016, P. 17 e 18).
Se parece pouco o número de padres que ordenou, foi imensurável o peso da reabertura do Seminário diocesano, e de outras instituições de ensino católicas. Acercou-se de religiosas e religiosos para a messe diocesana, em nível da sede, também das paróquias de sua jurisdição. Criou paróquias: na sede, a de São Sebastião e a de Fátima. Tinha senso de Igreja, da missão e de sua organização. Lembra esse autor que seguimos neste passo, que, ao ser proposta a criação da diocese de Campo Maior, ele concorreu para a sua literal grandeza, cedendo "os municípios de Barras, Porto e Nossa Senhora dos Remédios" para a nova jurisdição episcopal. Do que convém assinalar que Dom Paulo - consciente ou não devolvia e repunha um território eclesiástico que desde eras antoninas setecentas estava sob o cuidado paroquial da freguesia do Surubim, capela curada primeiro, 1713, depois matriz, em 1740, e em 1974, catedral de Santo Antonio, Aparecido.
Dom Paulo resignou da titularidade diocesana em 1980. Bispo Emérito de Parnaíba, o silêncio das sacras dicções sobreveio em 31 de março de 1981.
*Nota 159: Em sua historiografia destaca esse autor (MELO, 2019, p. 759) que, além de Dom Paulo, pouco mais adiante no século, de Picos sairia outro padre e bispo piauiense: Dom Joaquim Rufino, a exemplo de Libório, também bispo de Parnaíba. No Tombo diocesano há um registro curioso a propósito da fecundidade da velha Picos e entorno, e ali estão arrolados, além de Libório e Rufino, "os padres João Hipólito (depois titulado monsenhor), Joaquim de Oliveira Lopes, Joaquim [ilegível), Marcos Carvalho, João Pedro, Felipe de Oliveira Lopes, Benedito Portela, Cícero Portela, Acylino Portela Sobrinho, Aristeu do Rego Barros, Elvidio Maia, Antonio da Luz, Josino Leal, Paulo Hipólito de Sousa Libório. Isso até 75 anos atrás, depois muitos outros vieram a se somar nas décadas seguintes. E muito oportuno assinalar, na atualidade, que são filiados dessa gleba mariana, Picos, o notável bispo Dom Tomás Balduíno, emérito da Cidade de Goiás, falecido em 2014, e o padre doutor Wellistony Carvalho Viana, atual (2021) diretor espiritual do Colégio Pio Brasileiro, e professor da Universidade Gregoriana, em Roma, além do padre Walmir Lima, que acaba de cumprir mandados de prefeito da própria cidade de Picos.
Referência:
SANTOS NETO, Antônio Fonseca dos; LIBÓRIO, Paulo de Tarso Batista. SEVERINO. Teresina: Editora e Livraria Nova Aliança, 2021. p. 217-221 (Coleção Sucessores dos Apóstolos em Teresina, vol. 3).