A saga do Padre João Manuel de Almendra no século XIX
Pe. João Manoel de Almendra Veio de Lisboa, Portugal, em companhia do sacristão Manoel Lopes e Ribas, para a então vila de Campo Maior no ano de 1804. Aqui permaneceu até 1827. Durante a sua permanência na vila aconteceu a Batalha do Jenipapo, ocasião em que, segundo algumas informações, desapareceram vários livros e documentos da Igreja, inclusive a escritura de doação das Casas do Patriarca São José, que haviam sido doadas por Gonçalo Barbalho Corte Real, que era natural da Bahia. Gonçalo Barbalho, por ser muito devoto de São José fez trazer da Bahia uma imagem do Santo e a conservava no oratório de sua fazenda, a Santa Rosa.
Em 05 de fevereiro de 1823, para desarticular uma resistência de portugueses, Leonardo de Carvalho Castelo Branco, ao entrar em Campo Maior, faz algumas prisões. Entre elas, a do Pe. João Manoel de Almendra. A 19 do mesmo mês e ano, ocorre um tumulto popular contra o referido padre, que já se encontrava preso.
No "Almanaque do Cariri" de 1952 há a seguinte citação: "Dessarte e como manifestação pública de revolta contra os portugueses, os patriotas invadiram a residência do então vigário, que era português, cônego João de Almendra, e entre outras depredações rasgaram e queimaram o Livro de Tombo da Matriz, atirando assim às cinzas as memórias coligidas sobre a criação e desenvolvimento daquele paroquiato".
Depois do combate do Jenipapo, temos registro de que a 13 de março, junto com outros presos, pela manhã, o padre tinha sido remetido para Oeiras e, no lugar Boqueirão da Serra, ele escapou de uma chacina por ser sacerdote. Na ocasião, com consentimento da escolta, foram mortos oito presos.
Do Pe. João Manoel de Almendra, temos ainda as noticias: entre 1850 e 1855, em inquérito realizado na Comarca de Campo Maior, por solicitação dos procuradores das Casas do Patriarca São José, o Pe. João Almendra ficou inocentado dos desaparecimentos relatados acima (consta em Livro de Tombo da Matriz de Santo Antônio, em transcrição efetuada na década de 1920); também sabe-se que a 07 de abril de 1878 o Pe. João Manoel de Almendra celebrou a missa de ação de graças pela instalação da Vila de Livramento (José de Freitas-PI).
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JOÃO MANUEL DE ALMENDRA (primeiro do nome) (padre Almendra), nasceu em 02.03.1762 no lugar Bem-Lhe-Vae, termo de Vila-Flor, comarca de Torre do Moncorvo, arcebispado de Braga, freguesia do Divino Espírito Santo, na província de Trás-os-Montes, em Portugal, faleceu na vila de Campo Maior, no Piauí, sagrado na igreja matriz de Campo Maior. No final do século XVIII foi nomeado vigário de Santo Antônio do Surubim de Campo Maior. Pouco antes da chegada do padre Almendra, a vila de Campo Maior, instalada em 11-08-1762, possuía algumas ruas com seu casario, duas praças ladeando a igreja matriz e uma capela, além de alguns prédios públicos.
No início do século XIX o padre Almendra viajou a Portugal, no intuito de visitar a família e trazer seus familiares mais próximos para o Piauí. Retornou ao Brasil em 1804, indo para Campo Maior com sua irmã Maria José d´Almendra (viúva de Manuel Caetano de Carvalho) e com seu sobrinho Jacob Manuel d´Almendra [v. 45.083]. A sobrinha que os acompanhava, Rita Maria d´Almendra, permaneceu em São Luís, no Maranhão, ali falecendo anos depois. Em Lisboa ficou a sobrinha Maria Francisca d´Almendra, casada com Francisco de Paula Freitas.
Como vigário de Campo Maior, João Manuel d´Almendra acumulou durante anos um considerável patrimônio que seria herdado pelo sobrinho Jacob Manuel d´Almendra, como consta em seu testamento, datado de julho de 1826 [Barbosa et al., 1984, p. 37; Castello Branco Filho et al., 2000, p. 17-22]. O padre Almendra, João Manoel d´Almendra, era filho de Manoel Gomes e de Anna d´Almendra, nascidos em Portugal.
Referência:
LIMA, Reginaldo. GERAÇÃO CAMPO MAIOR: Anotações para uma Enciclopédia, 1995. p. 169-170.
FERREIRA, Edgardo Pires. A mística do parentesco: uma genealogia inacabada: Os Castello Branco – 1. ed. – Garulhos, SP : abc Editorial, 2011. Vol. 5.