A Expulsão dos Jesuítas do Piauí (1760)


A expulsão e o sequestro dos bens

Por toda a parte se comentava a fabulosa riqueza dos Jesuítas, particularmente no Piauí, Maranhão e Pará.

O Marquês de Pombal viu nela a solução para tirar o Reino da grande crise econômica por que passava. Por um processo de todos conhecido, consta que simulou um atentado ao Rei e responsabilizou por tudo o que aconteceu, alguns nobres, seus desafetos e os filhos de Santo Inácio, particularmente o Pe. Malagrida, tendo assim o pretexto para expulsar a Companhia de Jesus dos domínios portugueses e confiscar-lhes os bens. Esta disposição real chegou à Bahia em fins de Maio de 1759.

Inesperadamente, antes mesmo de o Piauí se tornar Capitania independente, teve como Ouvidor da Vila de Mocha o Dr. José Luís Duarte Freire, cuja finalidade não era administrar a Justiça no Piauí, e sim, iniciar o processo do levantamento dos bens da Companhia para o seu sequestro. Na verdade eram dos Jesuítas o maior latifúndio de toda a história do Piauí; 277 léguas de sesmaria ou 12.000 km², mais de 32.000 cabeças de gado, 1.600 cavalos e quase 200 escravos.

A notícia do Decreto de expulsão dos Jesuítas de todos os domínios portugueses só chegou ao Piauí em final do ano de 1759.

Os religiosos residentes no Piauí eram os Padres Francisco Sampaio, João de Sampaio, Manuel Cardoso e José de Figueiredo e o Irmão Coadjutor Jacinto Fernandes, “exímio curraleiro”.
Foram presos em 10 de Março de 1760 e dez dias depois enviados para a Bahia.
Embora tratados com o respeito que tinham à dignidade sacerdotal, o medo de um ataque e sequestro daqueles religiosos, obrigou as autoridades a tomarem rigorosas providências na custódia dos prisioneiros.

Foram conduzidos pelo Alferes João Rabelo da Cunha que era acompanhado por um Sargento Mor e 10 soldados fortemente armados e com instruções rigorosas de não consentir “que algum deles se aparte da sua presença, nem que alguns dos soldados, que os vão escoltando, se adiantem ou atrase devendo ir todos juntos para que não suceda a mais leve desordem em negócio tão sério... isto mesmo observará em toda parte onde pousarem para jantar ou pernoitar, pondo aos mesmos Padres, sentinela que V. Mercê rondará a cada passo e também o Sargento que o acompanhará”.

Quase no fim da viagem morreu o Pe. José de Figueiredo.
Nossos Jesuítas chegaram em Salvador depois que seus companheiros embarcaram para a Europa. Partiram portanto em outro navio. “Dos retardatários do Piauí um foi para a Itália, o Pe. Manuel Cardoso, enquanto os Padres Francisco e João de Sampaio ficaram em Portugal, a princípio presos no Azeitão, e mais tarde em São Julião da Barra onde em 1766 viria a falecer o Pe. Manuel Gonzaga”.

Mal administrada, cedo aquela grande riqueza definhou a ponto de sua importância ficar reduzida às terras que não puderam ser destruídas.

Os Jesuítas não deixaram um só documento que nos revelassem como receberam as notícias da prisão e sequestro, mas os fatos revelam a grandeza de almas daqueles homens. De quando surgiram os boatos, até a prisão, tiveram muito tempo para os mais diversos comportamentos. Não fugiram, não abandonaram suas obrigações missionárias, nem os seus deveres de administradores de um legado que conservaram como dantes; não venderam nada, não fizeram qualquer doação, mesmo que justas aos que os serviam, não deram carta de alforria a qualquer escravo, nem remeteram um sequer para casa de parentes. Tudo deixaram como se devessem continuar a administração, com notas de tudo. Supunha-se que viviam na opulência, mas encontraram a pobreza e a honestidade como a característica de 49 anos da administração daquela que foi a maior riqueza piauiense. Como homens de Deus, apenas cumpriram o seu dever, deram todavia para aqueles que o secundaram e para os administradores de hoje, o exemplo de como se administra os bens alheios.

Referência:
MELO, Padre Cláudio. Os Jesuítas no Piauí, 1991. In: Obra Reunida, APL, 2018.

Postagens mais visitadas deste blog

Banda Lyra de Santo Antônio - Por Irmão Turuka, 1969.

FRANCISCANOS EM CAMPO MAIOR (1899, 1941 e 1986)

História Original de Santo Antônio de Campo Maior por Marion Saraiva Monteiro (1962)