Nota Biográfica: Dom Avelar Brandão Vilela, 2° Arcebispo de Teresina e Primaz do Brasil (1912-1986)
Dom Avelar Brandão Vilela nasceu em treze de junho de 1912, em Viçosa, Alagoas. Seus pais, Elias Brandão Vilela e Isabel Brandão Vilela, eram proprietários do Engenho Mata Verde, naquele município. Vilela teve como irmão o senador, vice-governador e deputado estadual por Alagoas, Teotônio Vilela; e como sobrinho, o governador e senador pelo estado do Alagoas, Teotônio Vilela Filho.
Foi ordenado padre em Aracaju, Sergipe, em vinte e sete de outubro de 1935, dia da Festa de Cristo Rei. Nesta capital, durante onze anos, exerceu cargos de professor de Psicologia, Português e Literatura Luso-Brasileira; secretário do Bispado, capelão, cônego, diretor espiritual do seminário Sagrado Coração de Jesus, assistente diocesano e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
Foi eleito Bispo de Petrolina, em Pernambuco, em junho de 1946, pelo Papa Pio XII, e sagrado em 27 de outubro do mesmo ano. No decênio em que esteve na cidade, realizou dois congressos eucarísticos e semanas ruralistas, fundando o Instituto São José para iniciação profissional de jovens; organizou setores da Ação Católica e instalou a Campanha Nacional de Educação Rural.
Chegou ao Piauí em 5 de maio de 1956, aos quarenta e quatro anos, na condição de segundo Arcebispo da Arquidiocese de Teresina, e permaneceu até 6 de maio de 1971, quando foi transferido para Salvador, sede primacial da Igreja Católica no Brasil.
Missa Pontifical de encerramento das comemorações pelo centenário da Matriz de Nossa Senhora do Amparo, Primaz de Teresina (PI), em agosto de 1952. Celebrações conduzidas pelo então Arcebispo de Teresina, Dom Severino Vieira de Melo; Dom Avelar Brandão Vilela, então Bispo de Petrolina (PE), que três anos depois viria a tornar-se Arcebispo de Teresina, foi convidado a pregar na missa pontificada por Dom Paulo Hipólito de Sousa Libório, bispo de Caruaru (PE). |
Dom Avelar Brandão Vilela, eleito Arcebispo de Teresina, por bula de 5 de novembro de 1955, passada em Castel Gandolfo, sob o pontificado de Pio XII, tomou posse do governo arquidiocesano de Teresina em 5 de maio do ano seguinte.
Do adro da matriz de Nossa Senhora do Amparo, onde foi saudado pelo prefeito Agenor Barbosa de Almeida e José Burlamaqui Auto de Abreu, dirigiu-se o arcebispo, pontificalmente paramentado e acompanhado pelas autoridades civis e militares à Igreja Catedral, sendo vivamente aclamado ao longo do percurso. Após o pontifical de posse, na catedral, proferiu o reitor do Seminário, padre Raimundo Nonato Melo, brilhante oração gratulatória. Muitos oradores sucederam-se nas homenagens a D. Avelar: cônego Antônio Cardoso de Vasconcelos, padres Deudesdit Craveiro de Melo e Mateus Cortez Rufino; Drs. José Cândido Ferraz e Lindolfo do Rego Monteiro; Dona Clara Correia Lima Gayoso e Almendra.
A frente da arquidiocese de Teresina alcançou D. Avelar, traduzir na prática, o lema que nos trouxera: evangelizar e humanizar. Citem-se entre grandes realizações suas, a criação da Faculdade Católica de Filosofia do Piauí e da Ação Social Arquidiocesana (A.S.A.), e a construção dos primeiros centros sociais desse exemplar complexo médico-assistencial da capital do Estado. Debite-se também a sua pessoa, em boa hora, a transferência do Colégio Arquidiocesano São Francisco de Sales, para a administração dos padres da Sociedade de Jesus. (...)
Em Teresina, Dom Avelar manteve sua crônica diária no rádio, denominada Oração por um dia feliz, nas emissoras de rádio Difusora e rádio Pioneira (fundada pelo mesmo em 1962), e na redação frequente no semanário impresso católico O Dominical (criado em 1937 por Dom Severino), que encerrou suas atividades em 1971, por ordem do Arcebispo. (...)
Transferido Dom Avelar para a Sé de São Salvador da Bahia, elegeu o Conselho Arquiepiscopal, em 3 de junho de 1971, Vigário Capitular, o Mons. Mateus Cortez Rufino.
Dom Avelar Brandão Vilela pertenceu à Academia Piauiense de Letras, onde ocupou a cadeira nº 1. (CARVALHO JR, 2011).
Dom Avelar Brandão Vilela, Arcebispo de Teresina, no dia 17 de maio de 1959 em solenidade realizada no adro da Igreja de Nossa Senhora do Amparo, coroou a longeva imagem padroeira de Teresina, solenidade festiva que contou com significativa participação dos fiéis. (Arquivo da Paróquia do Amparo). |
Polêmica com O. G. Rego de Carvalho
Os esforços reunidos em torno da causa da educação, bem como os viveres proporcionados a partir da instalação da Faculdade Católica de Filosofia colocaram o Arcebispo no centro de um debate sobre a qualidade e os propósitos dos intelectuais piauienses, que o escritor O. G. Rego de Carvalho vinha fomentando nos meios jornalísticos e culturais desde 1956.
O ponto alto das críticas que Dom Avelar sofreu, foi a carta aberta endereçada diretamente ao Arcebispo, com o título Deus e os Homens (1957). Neste texto de despedida, pois estava prestes a deixar o Piauí para morar no Rio de Janeiro, Orlando Geraldo Rego (renomado jornalista e romancista piauiense) tece críticas, não só enquadra o processo de seleção docente assumido pelo Arcebispo em termos de indicações pessoais e não competências técnicas, como amplia seu olhar para as ações do religioso, estivessem estas dentro ou fora do campo eclesial.
(...)
Não foi o único atrito que ganhou as páginas dos jornais. Segundo consta na matéria publicada pelo jornalista Orlando C. Rollo, em O Dia, o periódico O Compasso veiculou o texto Presença de Petrolina, na sua primeira edição do mês de julho com críticas que feriram a honra do arcebispo de Teresina. Sobre este assunto, Dom Avelar redigiu, de Petrolina, Pernambuco, uma carta à sua mãe em Viçosa, Alagoas:
“O que houve de extraordinário foi um boato que surgiu em Teresina, na minha ausência, de que fora agredido, em Petrolina. Não se sabe quem apareceu lá com essa conversa! [...] Teresina possui gente muito boa. Mas também dispõe de elementos de má-fé, capazes de pretender criar uma situação desagradável para quem possui a responsabilidade da igreja e foi tão bem aceito no meio. Lá deve existir uma rancorosa maçonaria que não deve sentir-se bem com esses primeiros meses de minha atuação por lá.” (VILELA apud CARVALHO, 2013).
Voz atuante no Concilio Vaticano II (1962-1965)
Em meados dos anos 1960, ao assumir a Diretoria Nacional do Movimento de Educação de Base (MEB), a Vice-Presidência e Presidência interina da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Presidência do Conselho Episcopal Latino Americano (CELAM), projetou-se internacionalmente, chegando a participar de todas as sessões do Concílio Vaticano II (1962-1965), e a coordenar a Conferência de Medellín, na Colômbia, em 1968. Posteriormente, participou da elaboração do primeiro Sínodo dos Bispos a convite do Papa Paulo VI, e de todos os consistórios realizados desde então.(...)
Dom Avelar cumpriu, principalmente depois do seu quinto ano de apostolado no Piauí, intensa agenda de viagens para cumprir compromissos junto à CNBB, ou entidades que o convidavam para proferir palestras. Ao menos uma vez por ano, entre 1962 e 1965, Dom Avelar afastou-se da capital por três meses seguidos, outubro, novembro e dezembro, para participar, no Vaticano, das sessões do Concílio Vaticano II.
Na última sessão, chegou a ficar quatro meses afastado de Teresina, devido a compromissos como vice-presidente da CNBB. Seu retorno ocorreu somente em 14 jan. 1966, quando concedeu entrevista à imprensa e chegou a receber voto de congratulações da Assembleia Legislativa pela sua atuação no Concílio. (CARVALHO, 2013).
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Concílio Vaticano II, Papa João XXIII com os Bispos conciliares. Dom Avelar Brandão Vilela está no centro da fotografia. |
Dom Avelar pós-Concílio, um liberal
moderado
Nas palavras do próprio Cardeal, se autocaracterizava:
“Adoto como norma de ação pastoral o pluralismo das experiências, levando em conta a idade e a mentalidade e outros fatores ditados pela psicologia e pela metodologia. Sou pela renovação da Igreja sem prejuízo dos valores essenciais de sua verdadeira tradição. Entendo que renovar não é destruir, mas adaptar. Cada momento histórico tem a sua contribuição a oferecer à igreja. E a Igreja a cada momento histórico.”
“Creio na incorporação de valores próprios de cada momento histórico. Não seria conservador ao ponto de acreditar que toda a tradição deva se fechar aos novos tempos, não seria moderado no sentido de ser indiferente aos apelos da hora presente. Há núcleos de ideias que se aperfeiçoam. Há conceitos que se matizam. Eu sou conservador no sentido de respeitar as legítimas tradições religiosas e culturais.”
“Muita gente discorda de um comportamento assim. [...] Essa terceira posição pode ser deturpada e mal interpretada, como se fosse contrária aos interesses em jogo, porque quando os espíritos estão conturbados só querem ouvir a palavra de integral apoio às suas convicções ou conveniências. Este é um dos grandes males do nosso tempo. [...] A igreja em si é da linha do meio. O que vi nos quatro anos de concílio e dois sínodos é que o que prevalece é a via média, andar para frente sem radicalizações. [...] Eu penso numa igreja que está andando, mas uma igreja que, por andar com todos e não apenas com grupos, não pode fazer seu o patrimônio de uma corrente, tal como aquela corrente desejaria que fosse, quer seja ela avançada ou conservadora. No trabalho global, a igreja sempre faz um trabalho de integração.” (VILELA apud CARVALHO, 2013).
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Museu Dom Avelar Brandão Vilela, em homenagem a tão estimado prelado, fundado pelo padre jesuíta Pedro Biondan Maione em 1990, localizado na capital Teresina-PI. |
Dois anos após se tornar arcebispo de
São Salvador, Em 2 de fevereiro de 1973, anunciou que
fora escolhido pelo papa Paulo VI como cardeal da Igreja de Roma; Vilela foi criado cardeal da Igreja Católica em 5
de março de 1973, no Consistório Ordinário Público de 1973, recebendo o barrete
cardinalício das mãos do Papa Paulo VI e o título cardinalício de São Bonifácio
e Santo Aleixo. Em 1975 requereu da Santa Sé o Título da primazia do Brasil
para a Arquidiocese de São Salvador da Bahia. Atendendo a prece do cardeal
Avelar, o Santo Padre enviou seu representante, o núncio apostólico, para
conferir o título de primazia numa cerimônia na Catedral Basílica do Santíssimo
Salvador, em 25 de outubro de 1980, tornando a Arquidiocese de Salvador, Sé
Primaz do Brasil.
Enquanto cardeal, dom Avelar Brandão
Vilela participou do conclave de agosto de 1978, que elegeu como Papa João
Paulo I, e do conclave de outubro de 1978, que elegeu como pontífice João Paulo
II.
O Cardeal Avelar Brandão Vilela faleceu
em 19 de dezembro de 1986, de câncer de estômago, sendo sepultado na Catedral
Basílica do Santíssimo Salvador, Igreja Primaz do Brasil.
Referências:
CARVALHO JR, Dagoberto Ferreira de. História Episcopal do Piauí. Recife: Editorial Thormes, 2011.
CARVALHO, Sônia Maria dos Santos. O Bispo de todos os tempos: uma biografia de Dom Avelar Brandão Vilela. 1. ed. Teresina: EDUFPI, 2013.