Nota Biográfica: Padre Cyrilo Chaves Soares Carneviva (1894-1936)

 

retrato falado do Padre Cyrilo Carneviva

 


Um dos mais polêmicos e completos sacerdotes do clero piauiense nas primeiras décadas do século XX foi, sem dúvida, o Padre Cyrilo Chaves Soares Carneviva. Sacerdote culto, poeta lírico, jornalista, notável orador sacro, professor, filólogo e polemista. Nasceu em Fortaleza-CE a 09 de julho de 1894, sendo filho do tenente-coronel do Exército Nacional José Joaquim Soares Carneviva e de Vitorina Chaves Carneviva.

Despertada a vocação religiosa, entrou no seminário de Teresina a 05 de abril de 1906, onde sempre esteve colocado entre os melhores alunos da classe, vez que sempre teve o gênio altivo. Concluiu o curso teológico e no despertar da vocação religiosa, entrou no Seminário de Teresina a 05 de abril de 1906, onde sempre esteve colocado entre os melhores alunos da classe, vez que sempre teve o gênio altivo. Concluiu o curso teológico no Seminário de Olinda, ordenando-se sacerdote em Teresina no dia 23 de dezembro de 1917.

Como professor, lecionava Português, área em que era um exímio mestre. Foi professor do Seminário e em diversos colégios de Teresina. Fundou o colégio Ateneu Teresinense em 1923.

Orador inspirado. No dizer de Wilson Carvalho Gonçalves, em seu Dicionário Histórico-biográfico piauiense (Teresina, 1993), era “possuidor de um verbo flamejante que comovia e conduzia multidões. Os seus sermões eram pregados de maneira nova, sem as retóricas surradas nas pregações conservadoras. Citava Vieira ao lado de Rui Barbosa”. Já o jornalista e escritor Celso Pinheiro Filho no livro História da Imprensa no Piauí (3ª edição, Teresina, 1997), diz que Padre Cyrilo: “foi um orador do tipo Frei Mont’Alverne ou, melhor talvez, Frei Baraúna, que usando figuras comoventes e simples, conseguia fazer o auditório chorar ou rir, a seu bel prazer”.

Integrou o Partido Democrático, do qual foi orador (1928) e pelo qual candidatou-se a Conselheiro (vereador) de Teresina nas eleições de 16.11.1928, não logrando êxito.

Além da oratória sacra, cultivava ainda o discurso estético, rico de imagens emocionantes, sendo um dos maiores e mais conhecidos oradores da história religiosa piauiense.

Jornalista atuante, com inúmeros artigos publicados na imprensa do Piauí e em muitos jornais do país. Tem colaborações em poesia e prosa esparsas na revista A Renascença (1922) e na Revista da Academia Piauiense de Letras (1925-1936). Fundou e dirigiu na capital piauiense o jornal A Liberdade (1928-1930), que foi dirigido posteriormente por Leão Marinho e pelo Desembargador Joaquim Vaz da Costa, até 1933. Dentre as polêmicas em que envolveu-se, é notável uma com o desembargador Pires de Castro.

Ao lado da professora Firmina Sobreira Cardoso, compôs a música do Hino do Piauí, com letra do grande poeta Da Costa e Silva, oficialmente adotado pela Lei Estadual n° 1.078, de 18.07.1923.

Literato e intelectual, tornou-se imortal da Academia Piauiense de Letras em 25 de janeiro de 1925, sendo o segundo ocupante da cadeira n° 01 daquele sodalício. No brilhante discurso de posse que Padre Cyrilo proferiu na APL, dizia: “Talvez a alguns cause estranheza que eu, sacerdote católico, seja, na Academia Piauiense de Letras, o substituto de Clodoaldo Freitas, pois entre mim e ele medeia a linha divisória das crenças, e nos separa definitivamente o antagonismo absoluto das ideias religiosas”.

Como padre, diz-nos Celso Pinheiro Filho, que: “devido a seu comportamento, que só se tornaria normal em nossos dias (...) era um desajustado dentro da batina. Vivia em eterno conflito com seu bispo, D. Severino Vieira de Melo, figura respeitável, mas severo zelador dos dogmas e costumes da Igreja de então. Padre Cyrilo tomava cerveja e fumava nos cafés da cidade, em rodas de intelectuais. Foi o primeiro e único padre que se aproximou e fez amizade com o anticlerical Clodoaldo Freitas, a quem acabou por substituir na Academia Piauiense de Letras. Jogavam partidas de gamão todas as tardes, discutindo sempre, sem que pudessem chegar a qualquer conclusão, pois que, se um era sincero na sua luta, o outro também o era em sua desmesurada crença em Deus, na Virgem e nos Santos”.

Exerceu o sacerdócio nas paróquias piauienses de Nossa Senhora da Conceição, em Barras (24.08.1918;1924), onde também foi vigário colaborador em 1924; vigário de São Gonçalo, em Batalha, de 24 de agosto de 1918 a 1921; pároco na igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Piracuruca, de 01 de fevereiro de 1919 a 01 de janeiro de 1921. Foi ainda vigário cooperador de Nossa Senhora dos Remédios, na paróquia de mesmo nome, em 1924. Depois passou à paróquia de Nossa Senhora do Amparo de Teresina. Secretário do Bispado do Piauí (1917-1918).

Afirmando ser o Padre Cyrilo uma das três importantes figuras do desfecho da revolução de 1930 no Piauí, o mesmo autor da História da Imprensa no Piauí cita um fato curioso envolvendo a figura do célebre sacerdote: “(...) Contou-me um amigo que, numa Semana Santa, a procissão do Senhor dos Passos terminaria na igreja do Amparo, onde o Padre Cyrilo faria o sermão. A procissão já estava no quinto nicho, quando o amigo mencionado, que era então meninote, passou por uma casa onde o Padre estava empolgado numa partida de baralho. Avisado do andamento da procissão, largou as cartas, correu para a igreja, entrando na mesma quase junto com a massa de fiéis. Subiu ao púlpito e, nesse dia, fez um dos melhores sermões de sua vida”.

O Dr. Laurindo Raulino (1907-1985), magistrado e professor altoense, que foi um dos fundadores do Cenáculo Piauiense de Letras em 1927, escolheu-o como patrono de sua cadeira de n° 01 naquela agremiação cultural. Ao traçar o perfil biográfico do nobre sacerdote em seu discurso de posse na sessão ordinária de 11.09.1927, disse Dr. Laurindo: “Hoje, depois de vigário de diversas paróquias no interior do Estado, se acha entre nós, onde cultiva com esmero as letras, dizendo ele que o estudo é o seu principal alimento (...). Alguém já dissera: Cyrilo Chaves não acertou com a sua verdadeira carreira, pois a um homem de tão grande talento, possuidor de uma rara presença de espírito, rico de ideias, honesto em suas opiniões, sincero aos seus amigos, ficar-lhe-ia melhor acertado o título de bacharel. Não. Engana-se quem assim disse. A igreja necessita de homens como Cyrilo Chaves, para mostrar com seu talento os erros da humanidade, e de sua opinião honesta, para saber resolver as questões religiosas (...)”.

Sem poder mais suportar as seguidas recriminações do bispo diocesano, que o suspendeu por o mesmo não cumprir determinações litúrgicas da Diocese, Padre Cyrilo teve de abandonar a batina. Daí seguiu para o Rio de Janeiro, onde, ao que se sabe, dirigiu um colégio no subúrbio de Madureira. Ali faleceu ainda muito moço, aos 41 anos, em 21 de abril de 1936.

Foi incluído na Antologia de Sonetos Piauienses (1972), de Félix Aires, figurando como verbete em outros importantes compêndios da literatura e historiografia piauiense, dentre os quais o Dicionário histórico e geográfico do estado do Piauí (1994), de Cláudio Bastos; o Dicionário histórico-biográfico piauiense (1993), de Wilson Carvalho Gonçalves; e o Dicionário biográfico escritores piauienses de todos os tempos (1995), de Adrião Neto. 

 

Referência:

DIAS, Carlos Alberto. Na fé da minha paróquia. Altos, Piauí, 2009. p. 107-110.

 


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