Nota Biográfica: João do Rêgo Monteiro, o Barão de Gurguéia (1809-1897)




Tenente Coronel João do Rêgo Monteiro, o Barão de Gurguéia, nasceu a 19 de maio de 1809, no lugar ainda, denominado "Barra do Riacho dos Cavalos", hoje município de União, deste Estado do Piauí; filho do Tenente Coronel Tomé do Rêgo Monteiro, proprietário, criador e agricultor, natural da cidade de Oeiras, deste Estado, e sua esposa dona Silvéria Joaquina de Oliveira Rêgo, sua parenta natural de Recife, Pernambuco (...) 

Em consequência de um litígio de terras com Padre Silvestre Martins Afonso, Tomé do Rêgo Monteiro foi assassinado em 1813, em seu próprio lar, quando escrevia, por Jagunços, do citado Padre e a mando deste; João do Rêgo Monteiro, se fez órfão e bem assim o seu irmão Benedito José do Rêgo, os quais viveram em companhia da mãe e viúva, diante de tão despótico antagonista, rico e portentoso, com o colimado objetivo de facinorosamente apoderar-se de suas terras.

O abominável e traiçoeiro homicídio ficou impune.

Na ocasião do trágico e pusilânime assassínio, a esposa de Tomé, que fiava frente a frente da mesa, em que escrevia, atônita, angustiada e desatinada, abraçou-se com o cadáver do esposo dileto, e virando-se para os tiranos facínoras, disse: - "Digam ao Sr. Padre Silvestre que vá comendo o seu bom peru e boa galinha que a morte de meu marido há de ser vingada". 
Um dos homicidas, ousou alvejá-la com a arma de fogo que conduzia e pelo outro sicário foi sustado, dizendo: - "não mate a mulher que ela tem razão". 

Meses depois Padre Silvestre viajava a cavalo para uma de suas fazendas, quando foi suprimido por análogo trânsito.

Dona Silvéria, senhora de índole varonil, com hombridade, heroicamente a trabalhar, com a esperança nos seus filhos, educando-os e ensinando-lhes o trabalho e a economia, que, graças a Providência Divina, não se frustraram a esse desígnio. Neles despertando o amor à virtude ao trabalho e a economia.

Aos 14 anos, João do Rêgo Monteiro, já era chefe de família, sua progenitora depositava-lhe toda confiança e tudo lhe corria bem.

Aos 18 anos, desposou sua sobrinha dona Custódia Joaquina do Rêgo, filha de sua irmã, dona Maria Joaquina de Oliveira Rêgo, esposada com o português Major Custódio da Silva Leão.

Deste matrimônio, nasceram três filhos que faleceram em tenra idade, e Filinto do Rêgo Monteiro, que faleceu aos trinta anos de idade, ainda celibatário, probo, trabalhador e devotado à ajuda paterna, o protótipo do bom filho e do cidadão diligente, e o Major Custódio do Rêgo Monteiro conceituado funcionário da Alfândega de Parnaíba, deste Estado. 

Viuvado João do Rêgo Monteiro, em 1841, ano depois casou-se segunda núpcias com sua cunhada dona Delmira dos Anjos Rêgo; (...) desse matrimônio João do Rêgo Monteiro teve quatorze filhos, que lhe sobreviveram, três homens e quatro mulheres: Coronel Benjamin do Rêgo Monteiro, Coronel João do Rêgo Monteiro Filho, Capitão Olímpio do Rêgo Monteiro, D. Maria do Rêgo Monteiro, solteira de prendas domésticas, D. Lídia do Rêgo Lobão, matrimoniada com o Tenente Coronel Nilo Alves de Lobão Veras (...), D. Delmira do Rêgo Lobão, consorte do Tenente Coronel Anfrísio Alves de Lobão Veras, e Dona Santilha do Rêgo Pinheiro, casada com o major Artur Pinheiro, comandante da Força Pública Policial do Estado.

O Barão de Gurguéia, trabalhador, empreendedor, inteligente e econômico, ampliando as suas terras no lugar "ESTANHADO", onde edificou casas residenciais, uma Capela, logo mais, transformada em Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, hoje, Matriz de União, cuja criação da Paróquia, em 27.08.1853, pela Lei nº 348.

Concitados amigos às suas ajudas nessa obra de benemerência pública, em pouco tempo o povoado "ESTANHADO" cresceu. Doou ao Governo Provincial meia légua de terras para o Patrimônio Municipal, casas para a Câmara Municipal, Quartel de Polícia e Cadeia Pública e Casa Paroquial.
Aceita a dádiva pelo Governo da Província, elevou-se à Vila, (17 de setembro de 1853, e à cidade, a 28 dezembro de 1889). Intitulada "UNIÃO", nome elegido por João do Rêgo Monteiro, em virtude de aliança dos seus habitantes. 

Foi coronel comandante superior da Guarda Nacional dos Municípios de Campo Maior e União. Comendador da Ordem da Rosa, Cavalheiro da Ordem de Cristo, chefe do Partido Conservador de União, de grande prestígio eleitoral no município de Campo Maior, onde sua ação se fazia sentir diretamente. Juiz de Paz e Deputado Provincial nas legislaturas de 1854 a 1857 a 1870 a 1873. E finalmente coroado com o suntuoso pergaminho/título de Barão de Gurguéia, por Decreto Imperial de 16 de setembro de 1874, pelos seus méritos e serviços prestados à coletividade e aos governos da Província e do Império.

Agraciou mais o governo, em Teresina, o prédio em que ainda hoje, funciona Escola Pública, na Praça Saraiva. Construiu casas residenciais nas ruas Paissandu, Teodoro Pacheco, Coelho Neto, Coelho Rodrigues, Praça Rio Branco e Antigo Palácio Episcopal na Praça Saraiva, onde era o seu domicílio, e uma casa geminada destinada ao trabalho de artes, ensaios de um conjunto musical e guarda de instrumentos, de 15 a 17 figuras, inclusive um maestro que regia a orquestra da capital.

No sítio e na fazenda, hoje, "Colônia Agrícola David Caldas", "Barra do Riacho dos Cavalos", quando transferidos ao Governo Federal, continha um roçado de 160.000 braças quadradas, lavoura de terras fertilíssimas exploradas por João do Rêgo Monteiro.

Católico Apostólico Romano, o Barão de Gurguéia na Capela de sua fazenda "Gameleira", habituava-se, ele próprio, rezar o terço aos sábados. (...) Possuía o Barão carruagem, para ir às missas com a família, fazer e retribuir visitas, e uma boa lancha que fazia viagem de Teresina à Gameleira e Estanhado.

Junto a sua família, mantinha dependentes e vizinhos, possuidor de 198 escravos. Proprietário aproximadamente de duas datas de terras, "Suçuapara" e "Santa Rita", e quatro fazendas de gado vacum, equino, caprino, ovino e suíno, nos lugares "Gameleira", "Tucuns", "Soledade" e "Estanhado", transferida esta, onde havia solta e casa, currais localizados em alto, à direita, defronte ao porto do Rio Parnaíba, para o lugar "Sítio", mais ou menos, dois quilômetros de União. 

Na sua grande feitoria, havia músicos, trabalhadores braçais, ourives, carpinteiros, ferreiros, pintores, pedreiros, oleiros, etc. Seus filhos e filhas ensinavam a ler àqueles que desejavam aprender.

Era o Barão venerado e estimado pelos seus escravos.

À Teresina, beneficiou também com mais dois edifícios: a Igreja de Nossa Senhora das Dores (atual Catedral Metropolitana de Nossa Senhora das Dores) e a Casa de Misericórdia. Construiu também casas em Campo Maior, e cooperou com o Conselheiro Saraiva na edificação de Teresina. Afilhado de batismo e devoto de Nossa Senhora dos Remédios, de primordial imagem, importada de Porto, Portugal, por sua aquisição.

De idade avançada, abandonou a vida pública e retirou-se para sua favorita cidade de União, onde viveu alguns anos, no refúgio do lar, e faleceu a 08 de dezembro de 1897, aos 89 anos de idade, em sua residência, ao lado da Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios. Os restos mortais do Barão e da Baronesa jazem no segundo cemitério construído em União.

Em Teresina, destacam-se em homenagem ao Benemérito Barão, o Grupo Escolar "Barão de Gurguéia" e a Avenida "Barão de Gurguéia, e em União, a Praça "Barão de Gurguéia", onde é localizada a Igreja Matriz.

Fonte: Erton Nei do Rêgo. A Família Rêgo Monteiro, 1972. [Arquivo Público do Estado do Piauí].*com revisão adaptada.*



Busto do Barão de Gurguéia

Antigo Casarão do Barão de Gurguéia, localizado na Praça Saraiva, hoje Casa de Cultura de Teresina.


Antigo aspecto da Catedral de Nossa Senhora das Dores de Teresina-PI.

Placa comemorativa da inauguração do templo em 1871, sob o patrocínio do Coronel João do Rêgo Monteiro.


Túmulo do Barão de Gurgueia, João do Rego Monteiro, no cemitério principal de União, PI. (Créditos: Torquato Oswald-Torres).



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