Padre Ibiapina, apóstolo no sertão do Piauí (1871)
Os padres, espalhados por paroquias remotas, operando cada qual separadamente, desajudados dos conselhos do superior, sem o estimulo de um companheiro, ficavam expostos a grandes perigos, a cada passo salteados por instigações perversas, sucumbindo às vezes a mortíferos laços.
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Já alguns anos antes travara-se combate incessante contra o relaxamento dos costumes. O padre Ibiapina, filho da província do Ceará, onde abrira missão permanente, com um raio de circunferência até Pernambuco, transpôs em 1871 nosso território, percorrendo Patrocínio, Picos e Jaicós.
Cercava-o uma auréola de extraordinário prestígio. Havendo ocupado as mais altas posições, na magistratura e no parlamento da nação, cumulado das grandezas da terra, tudo renunciou de súbito para dedicar-se de corpo e alma ao ministério de Christo. Era um asceta, de eloquência arrebatadora e rigorismo impressionante, caindo como uma bomba entre os vícios reinantes.
De uma atividade maravilhosa, capaz de resistir dias e noites a consecutivos trabalhos, mal repousando um instante, construiu no curto prazo de três meses um grande templo em Picos, arrojado e sólido, e logo depois um outro em Patrocínio. Assenhoreou-se por tal modo do animo do povo que, dentro do largo território, muito habitado.
Todas as pessoas, sem exceção, converteram-se às leis da Igreja, unidas em um só rebanho, sem inimizades nem ligações ilícitas. E até então as lutas partidárias, mal crônico e incurável das localidades, tocavam ao extremo dos seus desastrosos exageros. (Elias Martins, 1917).
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No século XIX, é justo pôr em relevo alguns espíritos de eleição que ilustraram os anais do Clero piauhyense. O padre Marcos de Araújo Costa, o padre José Antônio de Maria Ibiapina, frei Serafim de Catânia, monsenhor Raymundo Gil da Silva Britto e o cônego Acylino Baptista Portella Ferreira, para só falar dos falecidos, deixaram na alma popular uma impressão de simpatia e respeito, que a ação do tempo não conseguirá destruir. O padre Ibiapina e frei Serafim não são piauhyenses; naturalizaram-se, porém, no coração do povo, se assim me posso exprimir (...)
O padre José Antônio Maria Ibiapina, natural do Estado do Ceará, nasceu a 6 de Agosto de 1805, na povoação Ibiapina, cujo nome seu pai já havia juntado ao dele. Vencendo estorvos de toda a parte, conseguiu formar-se em Ciências sociais e jurídicas pela Academia de Pernambuco. Em 1834, tomou assento na Câmara dos Deputados. Quando tudo parecia sorrir-lhe, na perspectiva de brilhante carreira política, resolveu consagrar-se ao serviço de Deus e a 3 de Junho de 1853 recebeu o sagrado presbiterato.
Queria dedicar-se logo ao apostolado da pregação; entretanto, por obediência, ocupou, a princípio, os cargos de vigário geral e lente de Eloquência sagrada do Seminário de Olinda.
Obtendo mais tarde a sua exoneração, dedicou-se ao ministério da palavra e à fundação de institutos pios. Depois de estabelecer em Pernambuco um asilo para órfãos, seguiu para o Ceará, onde construiu e incrementou numerosos templos e casas de caridade. Volta a Pernambuco e retorna ao Ceará, deixando por onde passa um traço luminoso de seu apostolado.
Vindo ao Piauhy em 1871, esteve em Picos, Jaicós e Pio IX, onde sua palavra deixou tão funda impressão que ainda hoje lá se encontram septuagenários de sólida piedade, formada pela unção irresistível do grande pregador. Em três meses, construiu uma bela igreja em Picos. Edificou igualmente a Matriz de Pio IX (Mons. Cícero Portella Nunes, 1937).
Referências:
Elias Martins. Frei Serafim de Catânia. Therezina-Piauhy, 1917. p. 33-34.
Mons. Cícero Portella Nunes. Notas para a História Religiosa do Piauhy. Almanach Piauhyense, Editora Excelsior, Therezina-Piauhy, 1937. p. 40-41.